2008-08-31

Outão e a co-incineração de resíduos


Poucas linhas e menos palavras para um problema mais político do que ambiental que desde há quase uma dezena de anos é objecto de notícia e de debate, de polémica quantas vezes suportada por argumentos panfletários.

Escreve Ana Nunes, numa notícia do Público (edição de 08/08/30), que “Os municípios de Setúbal, Sesimbra e Palmela apresentaram, quinta-feira, uma acção cautelar no Tribunal Administrativo de Almada para suspender a declaração de impacte ambiental (DIA) do secretário de Estado do Ambiente respeitante à co-incineração de resíduos industriais perigosos na cimenteira Secil, no Outão”.

Argumenta o advogado daquelas autarquias, recorrendo a “um estudo levado a cabo pela Universidade de Coimbra” que “a exposição prolongada a pequenas concentrações de dioxinas leva à morte das células” - e, consequentemente, concluímos nós, à exposição das pessoas e das populações ao risco de contraírem doenças de natureza oncológica.

Não contestamos os riscos, mas duvidamos dos argumentos. Porque no caso concreto da SECIL, no Outão, com ou sem co-incineração, o que deveria ser objecto de discussão é a localização da cimenteira, na margem direita do estuário do Rio Sado, na periferia do Parque Natural da Arrábida. Todavia, por razões de estratégia política – devido ao impacte social e económico na região - a deslocalização da fábrica é um tema “tabu”.

E porque é “tabu”, discute-se a co-incineração.

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Ilustração: Fotografia recolhida em Vistas do Rio Sado.

2008-08-29

Tu és branco. Já te imaginaste como claro?


Até 1975, eu vivi durante alguns anos em África, em Moçambique. Precisamente, em Quelimane, na Zambézia, uma cidade “multirracial” - no contexto do artigo de Maria José Oliveira no "P2" (“Público”, de 08/08/28). - Uma cidade onde coexistiam diferentes comunidades, com culturas distintas, apesar da filosofia política predominante. Ou, se quisermos, do regime político dominante, contestado em (ou por) todas as comunidades.

Muito tempo antes da Revolução de Abril (1974), confrontei-me uma vez com a questão racial. Premeditadamente, no decurso de uma das muitas discussões em que nos envolvíamos “para endireitar o mundo”, um dos meus amigos provocou-me: - “Vocês, os brancos, têm a mania de ...”. E continuámos a discutir, com a participação activa de outros amigos, agora sobre a cor de uns e de outros. E um dos nossos amigos disse-nos: - “Eu sou preto, não sou negro”. - E prosseguiu, apontando-me: - “Tu és branco. Já te imaginaste como claro?”.

Nós continuámos a conversar (a discutir) e a beber cerveja, numa esplanada à beira do Rio dos Bons Sinais. Mas desde então, apesar do conceito de “negritude” de Léopold Senghor (que reinvindicou a ascendência portuguesa), eu digo branco e digo preto. Se for preciso dizer – claro!

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Ilustração: “Mãe Preta Branca”, obra de Margaritta Lamegho, recolhida em Margaritta Lamegho .

2008-08-27

Arquitectura e “criatividade” – II


Depois de publicarmos o “postArquitectura e “criatividade”… decidimos começar a coleccionar os trechos que por diferentes motivos nos surpreendem enquanto, por dever de ofício, lemos e analisamos a “Memória Descritiva e Justificativa” dos projectos que apreciamos. A coleccionar e a divulgar.

Neste âmbito, hoje servimos mais um naco de boa prosa técnico-científica cortado na “Memória Descritiva e Justificativa” de um projecto de alterações de um Estabelecimento de Restauração. Vale a pena saborearmos o primor literário:

“(…) a ideia original para o funcionamento era fornecer frangos assados para o exterior. No entanto, começaram a surgir clientes, que pediam para lhes servirem “um franguinho” para o comerem no local, como petisco ou mesmo como refeição. Mais uma alteração afim de satisfazer os clientes”. E o técnico que assina o projecto de arquitectura conclui, no parágrafo seguinte: - “Passo a passo, a requerente “arrumou” definitivamente o estabelecimento de forma a satisfazer todos os seus clientes”.
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NC: - Por razões óbvias, não identificaremos os autores dos projectos. Todavia, para evitar interpretações susceptíveis de afectar a imagem dos arquitectos, enquanto classe profissional, decidimos passar a mencionar no "post" se os autores dos projectos são ou não são arquitectos. Neste caso, o autor do “Projecto de Arquitectura” não é arquitecto.
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Ilustração: Imagem recolhida em KHouse 2000

2008-08-26

Assistência aos banhistas


Hoje, quando estamos a menos de um mês do final (oficial) da época balnear, o Diário da República divulga o diploma que “Regula o acesso e condições de licenciamento da actividade de assistência aos banhistas nas praias marítimas, fluviais e lacustres e define os materiais e equipamentos necessários ao respectivo exercício”.

Obviamente, recomendamos a leitura do Decreto Regulamentar Nº. 16/2008 – e, para a contextualização da informação no plano jurídico, também a leitura da Lei Nº. 44/2004, de 9 de Agosto, que “Define o regime jurídico da assistência nos locais destinados a banhistas”, alterada pelo Decreto-Lei Nº. 100/2005, de 23 de Agosto, que é a “Primeira alteração à Lei n.º 44/2004, de 19 de Agosto, que define o regime jurídico da assistência nos locais destinados a banhistas”.

Porque, como estabelece um slogan – que parafraseia o (Alexandre) O’Neill – “Há bar e …" perdão, “Há mar e mar, há ir e voltar!”.

2008-08-25

Jogos Olímpicos – 2008


Festa de encerramento

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Ilustração: Fotografia na primeira página da edição de hoje de The Beijing News .

Pel'O Fio do Horizonte


O fio do horizonte será a fronteira espacial para além da qual a terra e o resto do universo prosseguem. “O Fio do Horizonte” foi o título escolhido por Eduardo Prado Coelho para as suas crónicas que diariamente publicou no “Público”, até 07/08/25. Pequenos textos, ora sobre acontecimentos triviais do quotidiano ora para nos sugerir um livro, um filme, uma voz – que eu depois procurava ler, ver e ouvir. Mas também para denunciar com souplesse irregularidades e para enaltecer com entusiasmo pequenas virtudes que tenderiam a ficar esquecidas. Nas últimas semanas, algumas das suas crónicas tiveram como cenário o meio hospitalar aonde a doença o conduzira. Para nos falar das pessoas, doentes e profissionais de saúde, da burocracia e das instalações. No seu modo peculiar de dizer, de escrever.

Faria bem o “Público” em juntar todas aquelas crónicas num livro. Agora que se passa um ano sobre a data em que pelo fio do horizonte o Eduardo Prado Coelho transpôs a fronteira da vida.

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Ilustração: Imagem recolhida em Estudante Digital

2008-08-22

Barajas, Madrid - ontem

Primeira página do “El Mundo

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ND: Recomendamos a leitura da frase do dia (de Mahatma Gandhi), sobre o título do jornal (na edição de 08/08/21).
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Ilustração: Imagem recolhida em Newseum

2008-08-21

Turismo de habitação e turismo no espaço rural


Cumprindo-se o disposto na Alínea b), do Número 2, do Artigo 4º. do Decreto-Lei Nº. 39/2008, de 7 de Março, que aprovou o “regime jurídico da instalação, exploração e funcionamento dos empreendimentos turísticos”, a edição de ontem (08/08/20) do Diário da República publicou a Portaria Nº. 937/2008, que “estabelece os requisitos mínimos a observar pelos estabelecimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço rural”.

Como sabem MSP e TSA, sobretudo os TSA, a Saúde Pùblica não intervém no processo de licenciamento destes estabelecimentos. Por razões que só os autores daqueles textos legais saberão esclarecer. Nós não sabemos. Ou talvez saibamos, mas os nossos argumentos seriam classificados de especulativos e confessamos que – pelo menos hoje, enquanto redigimos o “post” - não estamos disponíveis para debates pouco mais que inconclusivos.

Lemos a Portaria. Que contém pormenores curiosos. Apontamos dois:

Um: na Secção I – Objecto e noções define-se o que devem os leitores interessados entender por “turismo de habitação”, “turismo no espaço rural”, “espaço rural”, etc.. Atentemos na noção de “espaço rural” (Número 1., do Artigo 4º): - “Para o efeito do disposto no presente diploma consideram - se como espaço rural as áreas com ligação tradicional e significativa à agricultura ou ambiente e paisagem de carácter vincadamente rural”.

Outro: o Artigo 16º., relativo às “Instalações Sanitárias”, dispõe no Número 1. que “ As instalações sanitárias afectas ou integradas em unidades de alojamento devem dispor, no mínimo, de sanita, duche ou banheira, lavatório, espelho, ponto de luz, tomada de corrente eléctrica e de água corrente quente e fria”, e, no Número 2., que “As instalações sanitárias afectas ou integradas em unidades de alojamento devem ainda estar equipadas, no mínimo, com sabonete ou gel de banho”.

Se no primeiro caso nós ficamos sem saber de facto o que é um “espaço rural”, apesar da referência (ou talvez por causa dessa referência) ao ambiente e à paisagem de “carácter vincadamente rural”, no segundo caso admitimos que o(s) legislador(es), no afã de satisfazer(em) as necessidades básicas dos utentes dos estabelecimentos de turismo de habitação e de turismo no espaço rural, terá (terão) omitido outro equipamento, tão ou ainda mais indispensável que o “sabonete ou (o) gel de banho”...

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Ilustração: Imagem recolhida em portugal-rural (Portal)

2008-08-20

Um blogue de "Sucesso na Net", anónimo


Depois de lermos a notícia no Público, com chamada na primeira página, consultámos o blogue “Lisboa S. O. S. - É esta a cidade onde quer viver?”. Um blogue ilustrado com fotografias que denunciam “o estado de degradação de Lisboa”. Um blogue de cidadãos preocupados com o ambiente urbano, com uma função meritória, mas prejudicado por um pormenor: é anónimo; e para a correspondência tem um endereço de correio electrónico sedeado no Reino Unido (soslisboa@yahoo.co.uk).

De acordo com a notícia, assinada por Ana Henriques, os autores do blogue defendem “ferozmente o seu anonimato”. Porque, esclarece, citando-os, “Não temos quaisquer intenções obscuras, este é um blogue de intervenção cívica completamente apartidário”.

Será apartidário e de intervenção cívica. Mas até para se evitarem comentários como o de Miguel Sousa Tavares, em post-scriptum da sua crónica mais recente publicada no Expresso - os blogues “terão, certamente, muitas vantagens e utilidades, mas eu não me habituo a viver em territórios onde vivem o anonimato (…)” -, os autores de Lisboa S.O.S também deviam assumir a atitude cívica de não ocultarem a identidade.

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Ilustração: Imagem recolhida em Blogues no Ensino .

2008-08-18

As cegonhas e as alterações climáticas


As alterações climáticas e o aquecimento global afectam as condiçoes ecológicas das mais diversas regiões da terra. Algumas das perturbações são violentas, catastróficas, e objecto de notícia nos órgãos de comunicação social, sobretudo na televisão que sem pudor repete as imagens de tragédia que ilustram as inundações e as secas, os tornados e os tufões. Outras são mais discretas, silenciosas mas não menos significativas.

No sul de França, em Lattes, na região de Hérault, no inverno as cegonhas já não cumprem o ciclo migratório, voando para a península ibérica ou para o norte de África. Como noticia o Journal du Développement durable, instalaram-se em permanência. A informação foi divulgada por especialistas de La Maison de la Nature que estudam aquelas aves há uma dezena de anos.

Resta-me esperar que as muitas cegonhas que todos os anos reconstroem os ninhos no topo dos postes de electricidade nas cercanias de minha casa e que me anunciam a chegada do outono optem também por ficar por aquí, abandonando a emigração. Mas receio bem que brevemente a minha filha já não possa indicar o local onde o pai mora, como me contou no sábado enquanto viajávamos pelo Alentejo, dizendo com ironia que “é pelo caminho das cegonhas”...

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Ilustração: Imagem recolhida em “O voo da Bonelli”

“Venenos de Deus e Remédios do Diabo”


Sidónio Rosa é médico. Num encontro de profissionais de saúde que se realizou em Lisboa conheceu uma jovem moçambicana por quem se enamorou. Depois de responder a uma sua pergunta - “Sou da Guarda” - , a Deolinda susurrara-lhe fatalmente ao ouvido: - “Tu és o meu anjo-da-guarda”. As cartas que trocaram não apaziguaram a paixão. Associou-se a uma ONG (Organização Não Governamental) e ofereceu-se como voluntário para trabalhar em Moçambique. Em Vila Cacimba, à beira do mar fíndico, procurou a mulher que amava e encontrou os seus pais, Bartolomeu Sozinho, um velho que reiventara uma pátria para sobreviver, e Dona Munda, uma mulher ancestral.

Alojou-se numa pensão e em Vila Cacimba apenas conhece a ruela de areia que o conduz ao Posto de Saúde, onde numa “enfermaria improvisada nas traseiras” trata dos “soldados atingidos pela estranha epidemia que os convertera em tresandarilhos”, e à casa dos Sozinhos. Uma casa na “eterna penumbra”.

É neste cenário que se movimentam as figuras que Mia Couto recria no seu universo mitológico para pelos trilhos da alma nos desvendar um povo com quem eu aprendi que a vida não se consome nos gestos do quotidiano. Num romance: - “Venenos de Deus, Remédios do Diabo”.

Um livro para ler.

E reler. “Como se a viagem de Sidónio Rosa não tivesse partida nem chegada. Talvez por isso, em lugar de acácias e imbondeiros, ele assista ao vagaroso desfilar do casario de Lisboa. Afinal, Sidónio Rosa apenas agora está saindo da sua terra natal”.

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Ilustração: Imagem recolhida em Portal da Literatura .

Piscinas. E Spas


La Chronique”, de Gilles Marot, no Número 59 (Julho – Setembro, de 2008) da revista “Piscines – Le magazine pratique”, é um texto que deve merecer a atenção dos leitores do JSA, particularmente dos profissionais de Saúde Ambiental que, nos Centros de Saúde, desenvolvem programas de Vigilância Sanitária daqueles recintos de lazer.

Em duas páginas, tomando como referência as crianças, Gilles Marot analisa a segurança nas piscinas sob o ponto de vista do legislador (LOI Nº 2003-9 du 3 janvier 2003 relative à la sécurité des piscines) criticando a intervenção do estado no domínio da propriedade particular, comenta a segurança sob o ponto de vista do bom senso (conceito que pessoalmente temos muita dificuldade em aceitar, porque reflecte uma atitude cultural não-dinâmica), e conclui com algumas Reflexões sobre os dispositivos de segurança normalizados” (tradução livre): - “alarme, barreira, cobertura e protecção”.

Na mesma revista - que inclui um CD (publicitário do Aquareva System) que em 3D , interactivo, possibilita aos interesados a personalização da piscina - ainda disponível nos pontos de venda (PVP, em Portugal: € 5,95) de jornais e revistas, há outros artigos e dossiers com indubitável interese; salientamos dois - “Pour un entretien facile de l'eau” e “La géothermie: une énergie renouvelable sous la terre” - e um suplemento “Les cahiers du Spa et du bien-être”.

Como sabemos, em Portugal não há legislação específica sobre Piscinas. Nem sobre Spas. E quanto mais tarde se publicar, mais difícil será a regularização do sector... e a acção dos técnicos a quem compete o exercício da vigilância sanitária. Será que deve prevalecer o "bom senso"? Ou o governo optará por filosofar..., perdão, por legislar sobre o "bom senso"?

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Ilustração: Fotografia recolhida emPiscines – Le magazine pratique

2008-08-17

Árvores monumentais e singulares. Árvores


Com o “objetivo de difundir la existencia y la importancia ecológica, histórica y simbólica” das árvores monumentais e singulares “existentes en los paisajes de todo el mundo”, lemos em “frenaelcambioclimatico”, o “Observatori del Paisatge” criou um novo espaço: - “Árboles monumentales y Singulares”.

Um dossier com múltiplas informações, susceptíveis de interesar tanto a especialistas como ao público em geral, porque, como advertem os organizadores, “hay que tener muy presente que acciones y decisiones que ahora tomamos sobre cierto arbolado notable condicionarán el futuro de nuevos árboles singulares y monumentales que podrían disfrutar las generaciones futuras”. Em síntese, é preciso proteger a paisagem para preservar o futuro
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Ilustração: Fotografia recolhida em Real Jardín Botánico de Madrid

2008-08-16

26 anos depois…


Estava uma manhã de sol, e eu ainda não abandonara o vestuário clássico de quem vivera em Moçambique. De “balalaika” de cor clara apresentei-me no Centro de Saúde de Salvaterra de Magos, no centro da vila, junto do jardim público e a pouco mais de 50 metros da Câmara Municipal. O acesso era por um portão desengonçado, de ferro ferrugento. Atravessava-se um pequeno pátio e ao fundo, ao lado de uma oficina de ferrador, a porta da Secretaria.

Uma futura colega atendeu-me e conduziu-me por um corredor estreito e escuro até ao Gabinete do Director, então também Delegado de Saúde. Depois da apresentação, fiquei a saber qual seria o meu espaço de trabalho: a sala ao lado, no prolongamento do corredor entre a Secretaria e o Gabinete da Direcção. O mobiliário era simples: uma secretária, uma cadeira e uma marquesa, e – talvez, não me lembro – um armário-estante para a arrumação de papéis: Processos de Obras, “Dossiers”, Impressos…

Estávamos em 1982, decorria o dia 16 de Agosto.

Entretanto, passaram-se 26 anos.

Hoje, o Centro de Saúde está instalado num edifício com poucos anos, razoavelmente funcional, situado na avenida principal da vila. No meu espaço de trabalho, embora com um vão de janela no alçado principal, a iluminação natural é escassa e a ventilação é mínima. Mas dispõe do mobiliário necessário para o exercício da actividade: secretária, mesa, estantes, cadeiras e está equipado com telefone e computador com acesso à Internet.

É, porém, tempo de eu me aposentar. De ceder o lugar a gente nova. Já lá vão quase 40 anos desde que eu ingressei no exército para prestar serviço militar (então, obrigatório). Iniciarei agora a recolha da documentação necessária para formalizar o meu pedido de aposentação.

Mas prometo: porque gosto da profissão que exerço, se me for concedida a aposentação, o JSA continuará. Com a colaboração dos leitores.

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Ilustração: Fotografia recolhida em
les affaires.com

2008-08-14

“A Um Deus Desconhecido”


Sem quaisquer referências em relação à localização, e ainda bem, para prevenir a acção de eventuais depredadores, disse-nos a C. (leitora do JSA) que esta oliveira é uma árvore milenar. Não é a "Árvore”, de John Steinbeck. É tão-somente uma árvore. Que partilhamos com os demais leitores do JSA. Que se maravilham com as pequenas coisas. Também da Natureza.

2008-08-11

“Um Olhar sobre o Concelho de Salvaterra de Magos”


Ao mexer em papéis velhos, para mim uma tarefa cada vez mais rotineira, encontrei uma publicação que não me lembro de ter manuseado: - “Um Olhar sobre o Concelho de Salvaterra de Magos”. Trata-se de uma edição da Câmara Municipal, de Março de 2001, que, como o título sugere, está profusamente ilustrado com fotografias que permitirão – escreve no "Prefácio" Ana Cristina Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos – “compreender as suas gentes, o seu passado e a sua vivência”.

Cada um dos capítulos daquela obra corresponde a uma das seis freguesias do concelho e documenta, através de fotografias de autores anónimos, “O Trabalho”, “A Terra” e “As Gentes” do concelho.

É um bom documento mas poderia ser melhor: no início de cada capítulo, a informação sobre cada uma das freguesias é mínima e ignora datas marcantes na evolução administrativa do concelho; e não identifica os responsáveis pela recolha e a compilação e edição das fotografias. De qualquer modo, “Um Olhar sobre o Concelho de Salvaterra de Magos” é uma publicação que, sem pretender “ser um manual de história”, proporciona aos leitores “uma viagem pelo tempo”.

Na fotografia que seleccionámos, vemos um cingeleiro (*) a descer a Avenida (hoje, Avenida Roberto Ferreira da Fonseca) onde actualmente - do lado direito, em frente dos únicos edifícios visíveis - se situa o Centro de Saúde. Passaram-se 65 anos…

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(*) NC: - “Cingeleiro”: - “1. Pessoa que possui, aluga ou guia uma junta de bois, um cingel. 2. Pessoa que possui uma junta de bois e um carro rural com o qual faz carretos.” – in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea”, da Academia das Ciências de Lisboa, Editorial Verbo, Lisboa, 2001.

Na ARSLVT: António Branco sai, por “razões pessoais”


António Branco, médico de clínica geral e especialista em saúde familiar, apresentou o pedido de demissão do cargo de Presidente da ARSLVT, Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Cargo que exercia desde 2005 (05/05/02) e cuja comissão de serviço só terminaria em 2010 (10/02/26). O seu pedido de demissão, para o qual invocou “razões pessoais”, foi aceite pela Ministra da Saúde, Ana Jorge, que – de acordo com o “Diário de Notícias” (edição de 08/08/09) - nomeou para o cargo Rui Portugal, MSP, até agora vogal do Conselho Directivo do INSA, Instituto Nacional de Saúde.

O sucessor de António Branco é Presidente da associação Médicos do Mundo (Delegação de Portugal) e, continuando a acompanhar a notícia daquele jornal diário, “fez parte da equipa de Regina Bastos, que foi Secretária de Estado da Saúde durante o Governo liderado pelo social-democrata Santana Lopes”.

Num período em que aparentemente a anunciada reestruturação dos Cuidados de Saúde Primários não evolui, saudamos o trabalho desenvolvido por António Branco e esperamos que Rui Portugal não ceda (permitam-me esta retórica figura de estilo) às “forças de bloqueio”.

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Ilustração: Fotografia de Mário Ribeiro/”24 Horas”, recolhida (por scanner) no Diário de Notícias (08/08/09)

2008-08-09

Pela televisão, um crime em directo


Se “antes de nós já outros o fizeram” (como disse um poeta moçambicano, noutro contexto), decerto que melhor do que nós o faríamos, porque razão não havemos nós de reproduzir o texto que alguém escreveu sobre um acontecimento trágico que marcou a noite televisiva de sexta-feira (08/08/07), um serão que transpôs a fronteira da televisão e que a silly season tende a transformar num acontecimento de banal criminalidade que a polícia resolveu eficazmente. Apesar da morte em directo, ou do assassinato em directo praticado por um atirador (sniper) policial, em nome da lei.

Copiamos integralmente o post “Sequestros e epítetos”, que o JPT publicou na suama-shamba”:

Em Lisboa um assalto a um banco com sequestro. Dois assaltantes, trabalhadores da construção civil ali em part-time. Já identificados (o Expresso entrevista um primo de um assaltante ali em contacto com a polícia durante o assalto). A polícia decide abatê-los. Parece uma medida pedagógica, para que hipotéticos sequestradores pensem bem no que se meterão (”se a moda pega”!). Que custaria deixar partir os pilhas-galinhas, para onde poderiam escapar a médio prazo? O Estado tem o monopólio da violência legítima. Mas não da exagerada.

A televisão pública passa 15 minutos do seu telejornal a mostrar o rescaldo do assalto. Com particular pormenor, e repetidamente, os tiros certeiros. O reality show da morte - afã que a própria blogosfera louva. Um nojo imoral. Uma estupidez. Gente que nem pensa.

Há algumas semanas Portugal parou a discutir uma cena de tiroteio entre ciganos e negros. Foi um aqui d’el rei/ó da guarda. Na voz de muitas boas almas também porque alguns chamaram ciganos e negros aos envolvidos, assim denotando racismo, preconceito. Assim levando a que se tomassem negros e ciganos como globalmente marginais. Agora não se escutam as boas almas protestando com o facto de se chamarem “brasileiros” aos assaltantes abatidos. Melhor prova que as boas almas não pensam, que o verdadeiro preconceito nelas habita (”negro” ou “cigano” parece mal, “brasileiro” não faz mal”). Mero movimento nacional feminino d’hoje.”.

Nós assinamos por baixo. E propomos que quaisquer comentários sejam publicados no blogue original.

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Ilustração: Fotografia recolhida em estadao.com.br

2008-08-08

“ASAE multa por falta de morada”. Multará?...

Por razões que me dispenso de explicitar, normalmente não leio o “Correio da Manhã”. Todavia, hoje, eu comprei aquele jornal diário. Rigorosamente, por uma razão: depois de almoço, enquanto procedia ao pagamento da despesa, o proprietário do restaurante mostrou-me a fotografia que ilustra o “post” e perguntou-me, preocupado, se de facto seria obrigatório afixar na porta a morada da ASAE, para evitar a multa de 3500 euros. E acrescentou, apontando-me a parede (logo após a porta de entrada) onde tem afixados cerca de uma dezena de documentos, desde a “Licença de Utilização” à “Tabela de Preços”: - “Eu já tenho o endereço da ASAE no cartaz que anuncia o “Livro de Reclamações" …

Observei-lhe que a notícia me parecia disparatada e sem fundamento. No entanto – comentei ironicamente -, como neste país “o que me parece aberrante é susceptível de ser normalizado, eu vou tentar confirmar a notícia e depois transmitir-lhe-ei a informação que obtiver”.

Consultei o sítio da ASAE e não encontrei qualquer comentário sobre aquela foto-notícia (publicada no espaço de “Correio Indiscreto”, coordenado por António Ribeiro Ferreira). Mas, para informar (e tranquilizar) aquele empresário (e outros que entretanto me contactaram), espero que a ASAE satisfaça o esclarecimento que lhe solicitarei formalmente por correio electrónico.

Um esclarecimento que depois divulgarei, aqui, no JSA.

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Ilustração: Fotografia recolhida (por scanner) noCorreio da Manhã” (edição de 08/08/08).

08/08/08


08/08/08, em Pequim, na China: pelas 08.08.08 abertura oficial dos Jogos Olímpicos.

Apesar da poluição e das máscaras, das máscaras e da política; dos riscos para a saúde e a violação dos direitos humanos.

Pela Liberdade, pela Festa da Universalidade.

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Ilustração: o Google, hoje - 08/08/08

2008-08-07

Sobreiros: uma providência cautelar


A Quercus interpôs uma providência cautelar para prevenir o abate de 1200 sobreiros no local - Vale da Rosa, em Setúbal - onde uma empresa imobiliária pretende construir a urbanização Nova Setúbal – “uma mega-urbanização composta por 7500 apartamentos, para 30 mil habitantes”.

De acordo com a notícia do Público (edição de hoje), assinada por Cláudia Aldegalega, Susana Fonseca, vice-presidente da associação ambientalista, considera que a acção que desenvolveu tem por objecto “prevenir um mal maior e tentar impedir o abate dos 1200 sobreiros, que constituem uma perda ambiental significativa”.

Nós não sabemos se algum membro da Quercus já esteve na Herdade dos Gagos. Se não esteve, devia ir até lá. Para, no momento oportuno, consoante a evolução do processo de plantação de um estabelecimento prisional no montado de sobro, adoptar um procedimento idêntico.

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Ilustração: Fotografia recolhida (por scanner) no Público (edição de 08/08/07).

2008-08-06

No falecimento de Moisés Almeida, TSA


Foram centenas as pessoas (população anónima, autarcas, profissionais de saúde, colegas, amigos e familiares) que hoje (08/08/05) se reuniram em Coruche, na Igreja da Misericórdia e nas imediações, para, em silêncio, prestarem uma derradeira homenagem a Moisés Almeida, TSA. Que faleceu ontem, cerca de seis meses depois de lhe ter sido diagnosticada uma doença grave: cancro do pulmão.

No final do ano passado, em Dezembro, eu estive com o Moisés no hotel onde se realizou o Seminário sobre Controlo de Qualidade nos Estabelecimentos Termais. Reencontrei-o antes do inicio da sessão da tarde, no hall do hotel, a conversar com Sílvia Silva (que eu não conhecia pessoalmente). Apresentei-me e depois, enquanto acendia um cigarro, comentei com natural ironia algo como “porque a partir do primeiro dia do próximo ano me será interdito, deixem-me fumar um cigarro, aqui… ”. A colega afastou-se, para regressar à sala, e nós continuámos a conversar sobre o tabagismo, a aplicação da legislação e a liberdade dos cidadãos fumadores e não fumadores - nomeadamente nas unidades de saúde. A seguir falámos de acontecimentos banais, mas particularmente curiosos no nosso quotidiano profissional. Disse-me o Moisés (que optara por não almoçar no hotel) que tivera no restaurante que escolhera (“O Polícia”, creio, perto da sede da Fundação Gulbenkian) um “encontro de 3º grau”: pouco depois de se sentar à mesa viu transpor a porta, também para almoçar, António Nunes, Presidente da ASAE. E eu relatei-lhe que tivera melhor sorte: acidentalmente partilhei a mesa com algumas pessoas que já conhecia, das Termas de Cabeço de Vide, e outra, que não conhecia (MSP, Delegada de Saúde de Cascais) mas cuja figura me surpreendia (e o Moisés concordou comigo) por ser sósia de Vera Noronha, Engenheira Sanitarista na SRS de Santarém. Apaguei o cigarro, para voltar para a sala onde os trabalhos estavam prestes a recomeçar. Mas o Moisés não entrou. Observou-me (cito-o de memória, obviamente): - “Eu vou visitar a Luísa (Luísa Portugal, MSP, ex-Delegada de Saúde de Coruche), que trabalha aqui perto”. Pedi-lhe para a saudar em meu nome e despedimo-nos.

Não voltámos a reencontrar-nos, com tempo para conversarmos.

Na bela porque simples igreja da Misericórdia de Coruche, durante a celebração da missa que precedeu o préstito fúnebre - até ao cemitério (a cerca de um quilómetro de distância do Centro de Saúde) onde os Bombeiros Voluntários desceram a urna ao fundo da cova -, o sacerdote referiu-se às últimas conversas que tivera com o Moisés. E que este acedera a ser ungido pelo sacramento da Extrema-unção.

Eu, descrente mas não ateísta, acredito que as pessoas só morrem quando desaparecem da memória.

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Ilustração: Fotografia de Sérgio Afonso, recolhida em Olhares – Fotografia Online

“Saúde Ambiental e Sociedade: da investigação à tomada de decisões”


Environmental Health and Society: from research to decision-making” (“Saúde Ambiental e Sociedade: da investigação à tomada de decisões”) é o título de um dos cursos do programa da XIX edição da Escola de Verão de Saúde Pública que funcionará na Ilha de Lazareto, em Mahón (Maó, em catalão), de 22 a 27 de Setembrocon el compromiso de constituir, un año más, un lugar de referencia para la formación e innovación científica en salud pública, dentro de un marco independiente que facilita el debate crítico y multidisciplinar de los problemas de salud”.

Sobre o curso, escreve-se na edição de Julho do BoletimSalud y Medio Ambiente”, da Fundación Ecología y Desarrollo, que “aborda el vínculo entre la epidemiología ambiental, evaluación de riesgos y políticas de análisis de la perspectiva de un proceso multidisciplinario. A través de estudios de casos, los estudiantes aprenderán sobre el uso de la epidemiología ambiental en la aplicación de medidas preventivas de salud pública, de evaluación de riesgos, como debatir el papel de la evaluación de riesgos de salud en el futuro las decisiones políticas, etc.”.

Como sucedeu em anos anteriores, recomendamos aos leitores do JSA a consulta do Programa - que inclui outros Cursos, Conferências e cerca de duas dezenas de Encontros sobre os mais diversos temas de saúde pública – e, implicitamente, uma deslocação a Menorca - Reserva da Biosfera desde 93/10/08.

2008-08-04

Moisés, TSA


No Centro de Saúde, ao abrirmos a caixa do correio, a notícia - nefasta, como todas as que anunciam o falecimento de alguém que conhecemos, que faz parte do nosso quotidiano profissional, de alguém com quem mantemos uma longa relação de amizade.

Reproduzimos o e-mail:

Sr. TSA

Cabe-me dar uma dolorosa informação a todos vós: o colega Moisés partiu esta manhã.
Não sei mais pormenores. Logo que saiba a hora do funeral, dar-vos-ei conhecimento.

Cumprimentos

Vera Noronha
”.

O colega Moisés Almeida, TSA no SSP (Serviço de Saúde Pública) do CS (Centro de Saúde) de Coruche, faleceu.

Hoje, 08/08/04.
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NC: - O funeral será amanhã (08/08/05), pelas 15.00 horas, saindo da Igreja da Misericórdia, em Coruche.
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Ilustração:
Imagem recolhida em
Um olhar na morte

Dana Michahelles, António Quadros, ou...


Há poucos dias, publiquei um desenho da (então) cidade de Lourenço Marques. Um desenho de Dana, que, soube depois, consta de um volume editado pela Caminho. Um volume que recolhe 150 desenhos que são, como escreve Malangatana, “um pedaço de uma pista gravada musicalmente que nos permite um deleite para as saudades de quem conheceu há trinta anos uma bem marcada poesia em múltiplas formas arquitectónicas e garridas vestes onde a mistura de raças forma um esplendor, um território chamado Xipamanine”.

A Dana Michahelles trabalhou como desenhadora no atelier de Pancho Guedes (cuja obra foi recentemente objecto de exposições em diferentes países), e, no Núcleo de Arte, colaborou com António Quadros - uma figura relevante na arquitectura da cidade laurentina e uma das figuras mais controversas da cultura moçambicana -. Um homem que depois de múltiplas vicissitudes que marcaram a história recente de Moçambique optou por se auto-exilar no silêncio da terra natal - Campo de Besteiros, algures na Beira Alta, no concelho de Tondela.

Como a vida se entretece com estranhas relações, eu estava há cerca de um mês em Campo de Besteiros quando - no final de um dia de trabalho (na qualidade de formador), beberricava um whisky e folheava o jornal antes de descer para jantar – fui confrontado com a notícia brutal do falecimento do Diniz (Sebastião Alba), atropelado por um automóvel, em Braga.

Lembrando o autor de “Laurentinas” e, também, um dos arquitectos da capital moçambicana, publico “A face do homem (António Quadros) que oculta o poeta (Grabato Dias)”, sem alterar a legenda que dactilografei em 1973 ou 1974, quando preparava uma antologia da poesia moçambicana.

2008-08-01

Arquitectura e "criatividade"...


Uma das competências dos TSA que exercem a profissão no Serviço de Saúde Pública dos Centros de Saúde consiste na apreciação de projectos para a emissão de Parecer Sanitário. Um Parecer que objectiva (de modo muito sintético) a prevenção das condições de salubridade e de segurança das habitações e dos estabelecimentos pela avaliação das condições hígio e técnico-sanitarias dos projectos de arquitectura.

Os projectos, enviados aos Centros de Saúde pelas entidades licenciadoras, são (ou devem ser) acompanhados por uma “Memória Descritiva e Justificativa”. Um documento que normalmente é de chapa, isto é: no texto só se altera o nome do requerente e o local do estabelecimento ou da moradia.

Por vezes, porém, os responsáveis pelos projectos alteram aquele documento. Por vezes, também, com muita criatividade - com ideias luminosas.

Como neste trecho de boa literatura técnico-científica que recolhemos na “Memória Descritiva e Justificativa” – no caso concreto, designada por “Memória Descritiva (arquitectura)” – de um projecto que nos coube analisar: - “(…) pretende-se, assim, que a área afecta a pastelaria (…) passe também a snack-bar, servindo mini-refeições (bifanas ou hambúrgueres). A pretensão não implica a realização de quaisquer obras de adaptação, visando apenas diminuir a possibilidade de conflitualidade com os serviços da ASAE” (*).

Excelente, não é?....

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(*) O sublinhado (negrito) é da nossa responsabilidade.


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NC: Um esclarecimento, a posteriori, que acrescentamos depois da NC que publicámos em Arquitectura e “Criatividade” - II: - o autor do “Projecto de Arquitectura” não é arquitecto.

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Ilustração: Imagem recolhida em Portal Planeta Educação