2008-09-30

O Sr. Domingos


O Sr. Domingos tem 64 anos de idade e foi desde (20 de) Novembro de 2006 o motorista do Centro de Saúde onde trabalho. Foi, porque a partir de amanhã (08/10/01) estará na condição de aposentado. Depois de mais de três dezenas de anos na função pública (começou em 1976, no GAT, Gabinete de Apoio Técnico de Salvaterra de Magos), disporá de mais tempo para o convívio familiar e também para o amanho da terra e o cultivo da horta lá pelos Foros da Charneca (no concelho de Benavente) de onde vinha diariamente para Salvaterra.

Deu-me a notícia enquanto almoçávamos em Santarém, depois de eu ter procedido à entrega no Laboratório de Saúde Pública das amostras que colhera durante a manhã no âmbito dos programas de Vigilância Sanitária das águas para consumo humano e de recreio (leia-se Piscinas). O Sr. Domingos optara por Bacalhau (“Bacalhau à Moleiro”) e eu, menos piscívoro, por “Carne à Portuguesa”. Numa refeição que acompanhámos com vinho tinto, da casa – ainda servido em jarro. Num restaurante a que nos habituámos, pela relação qualidade-preço (no total, menos de € 18,00), e ao qual eu só não atribuo uma nota positiva devido à Muzak e ao ruído ambiente. Quando lhe observei que para a semana voltaríamos à cidade - que durante o próximo fim-de-semana evoca a figura e a obra de Bernardo Santareno –, o Sr. Domingos respondeu-me qualquer coisa como: - “Eu não. Hoje é o meu último dia de trabalho no Centro de Saúde”.

Em jornadas anteriores, a aposentação já fora objecto das nossas conversas. E agora a aposentação aconteceu. Em circunstâncias, curiosas, que marcam o fim de um ciclo. Em Novembro de 2006, a viatura do Centro de Saúde estava imobilizada devido a uma avaria mecânica. E hoje, no regresso ao Centro de Saúde, evocávamos esse incidente quando começámos a ouvir um ruído estranho e, logo a seguir, reparámos que no mostrador da temperatura o ponteiro apontava o nível 100… Precisamente a mesma avaria…

Enquanto esperávamos por um táxi, para regressarmos a Salvaterra de Magos, questionei-o sobre o momento da partida e disse-me que o tempo que trabalhou no Centro de Saúde “foi bom no contacto com as pessoas, todas me trataram bem. Foi maravilhoso!”.

O Sr. Manuel Domingos António afasta-se do Centro de Saúde deixando as chaves da viatura na oficina onde será reparada.

Sem mais.

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Ilustração: Fotografia por Duarte d’Oliveira (2008, Setembro)

2008-09-28

Água, desinfecção pelo método do Duplo-Pote


Em Abril de 1978, o “Jornal do Médico” publicou em separata o opúsculo “Desinfecção química da água de consumo pelo método do Duplo-Pote”, de Baltazar Mexia de Matos Caeiro – então Interno Policlínico do 1º Ano nos Hospitais Civis de Lisboa. Um pequeno livro (de 10 páginas) que todos nós, MSP e TSA da minha idade, lemos e reproduzimos para (in)formarmos as populações e particularmente os trabalhadores das autarquias sobre aquele método de desinfecção da água e assegurarmos a prevenção das doenças “transmissíveis pelas águas contaminadas” e a implementação de “cuidados básicos que as populações devem seguir para preservação das águas que bebem”.

O autor detém-se na “experiência pouco dispendiosa, prometedora e única em Portugal, que tem sido ensaiada com êxito no Distrito de Castelo Branco, em todos os seus concelhos, pelo Engenheiro Sanitário Melo Trigueiros e todos quantos com ele colaboram”, e apresenta “alguns números, para avaliar da importância da experiência (…) levada a cabo” pelo Serviço de Saúde do Concelho de Sertã.

Antes, porém, explica-nos em que consiste o método do Duplo-Pote, adaptado de “Water Suplly Systems”:

O Difusor de Duplo-Pote (…) é formado por um cilindro de barro interior com, aproximadamente, 16 cm de diâmetro e 28 cm de altura, com um furo de 1 cm de diâmetro situado a 3 cm da boca, colocado dentro de um outro, também de barro e cilíndrico, com 25 cm de diâmetro interno e 30 cm de altura. A 4 cm do fundo, o Pote exterior terá um orifício com 1 cm de diâmetro. Entre os dois recipientes fica um espaço aproximado de 9 cm.

O pote mais pequeno, interno, enche-se com uma mistura humidificada de 1 kg de cloreto de cal e 2 kg de areia grossa (2 mm), até um nível cerca de 3 cm abaixo do furo
(…). (i)

Para que a mistura se mantenha mole e se prolongue o tempo de cloração, deve adicionar-se 75 gr de hexametafosfato de sódio (ou 5% do peso de cloreto de cal) (…).
(ii)

Finalmente, a boca do pote exterior é fechada com um plástico. Temos, assim, o conjunto pronto a ser utilizado, suspenso em qualquer tipo de captação de água, cerca de 1 metro abaixo do nível da mesma, durante aproximadamente 2 meses, após o que se deve proceder ao seu recarregamento (6 por ano).

A cloração que pode ser feita pelo Difusor de Duplo-Pote refere-se também a poços particulares com a capacidade de 4 500 l e um consumo de 310 a 450 l
”.

Passaram-se 30 anos desde a data de publicação do estudo sobre a experiência-piloto do uso do Duplo-Pote. Hoje, para os profissionais de saúde pública e de saúde ambiental, será um método obsoleto. Mas, admitamos, era eficaz – mesmo eficiente, se considerarmos a relação custo-benefício. - E era, e é, ecológico. E ainda hoje, apesar de dispormos de outros recursos tecnológicos, talvez seja (fosse) útil porquanto, como sabemos, ainda há milhares de pessoas que se abastecem de água proveniente de poços. De poços sem protecção e sem qualquer vigilância – sanitária e/ou de controlo de qualidade.

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(i) O autor esclarece que se fez “uma modificação no quantitativo dos produtos, passando a utilizar-se 2 kg de cloreto e 1 kg de areia, notando-se uma apreciável melhoria dos resultados das análises”.

(ii) O autor observa que foi abandonada a utilização do hexametafosfato de sódio “por não dar o resultado teoricamente pensado, sem que isso tenha alterado em nada a validade e a eficácia do método” – facto que ao longo de anos, na década de 80 (1980- 1990), tivemos oportunidade de confirmar no exercício da profissão, no âmbito das acções de vigilância sanitária dos sistemas abastecimento de água públicos e particulares.

2008-09-25

Um livro cuja leitura doi


Dói ler este livro, a “Cartilha de Sanidade para conduta do povo português”, um livro “Composto e impresso nas Oficinas da Coimbra Editora, Lda.” em data incerta.

Em data incerta, mas num tempo em que “Uma das maiores desventuras da sanidade portuguesa está na mortandade de crianças com menos de 12 meses. Em cada mil nascimentos morrem cerca de 130 durante o 1º ano de vida” (página 29);

Também num tempo em que a Direcção Geral da Saúde se socorria de um episódio bíblico para, como Moisés na “fuga do Egipto para a Terra da Promissão”, recomendar “ao Povo que levasse um pau no cinto, quando se abaixasse a fazer as necessidades para com ele escavar a terra e cobrir a imundície” (página 7).

Num tempo em que não se esconde

a pobreza: - “O grande aperfeiçoamento estaria em não consentir casa sem sentina, se a condição económica permitisse a despesa a que tal preceito obrigaria o morador” (página 8);

a fome: - “(…) é certo também que há ricos, vivendo com grande conforto, que se tuberculizam e morrem de tuberculose, ao passo que há pobres que vivem de fome a vida inteira e não são tocados por tão grave flagelo"(página 13);

e o analfabetismo: - sobre o “Uso desta cartilha”, salienta-se que “Pratica acto meritório o que nas horas vagas convocar os que não sabem ler e lhes faça leitura e explicação do que se recomenda, exortando-os a praticá-lo” (página 39).

Dói ler este livro porque através das recomendações (e pela linguagem adoptada) para a prevenção das doenças nós podemos sem dificuldade recriar as sofridas condições sociais e económicas da população e pressentir a prepotência do regime político que sobreviveu até meados da década de 70, no século passado.

E também dói ler este livro porque tantas dezenas de anos depois, apesar da evolução socio-económica, do desenvolvimento da medicina e do progresso na prestação de cuidados de saúde, ainda há problemas sanitários que persistem – apesar de já diagnosticados na “Cartilha de Sanidade para conduta do povo português”…

“Um olhar sobre saúde e ambiente”


Relacionar Saúde humana e Saúde ambiental” é um dos objectivos do concurso de fotografiaUm olhar sobre saúde e ambiente” – uma iniciativa do Hospital de Faro, em parceria com a ARS Algarve, o Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio, e a Universidade do Algarve.

Numa breve nota introdutória ao Regulamento, escreve a Comissão Organizadora que é “imperioso mostrar que não há Saúde humana sem Saúde ambiental e que esta, por sua vez, precisa de ser cuidada como se da nossa própria saúde se tratasse”.

Para o concurso, aberto a todos os fotógrafos amadores e profissionais, as fotografias “deverão ser entregues até 089/02/02” nas condições estabelecidas regulamentarmente.

2008-09-23

Outono…


Embora pela tarde o sol dardeje – dando razão à sabedoria popular: “Manhãs de Inverno, tardes de verão” – pela manhã o nevoeiro envolve-nos e sombreia de mistério o cenário em que nos movimentamos.

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Ilustração:Ponte 25 de Abril, Lisboa” – Fotografia por Omar (2007).

2008-09-21

“Muzak”… Música ambiente ou poluição sonora?


Desde há semanas, para não dizer meses, que adio a publicação de um post sobre o ruído que nos é imposto sob a forma de música ambiente - nos hipermercados e nos hotéis, nos centros comerciais e nos restaurantes, nos…

Ainda na quinta-feira (08/09/18), pela tarde, no meu espaço de trabalho no Centro de Saúde, a música ambiente foi um dos assuntos que eu analisei com um utente com formação superior na área da Higiene e Segurança no Trabalho. Falei-lhe das dificuldades que eu – enquanto TSA – defrontava para intentar se não eliminar pelo menos reduzir o volume do ruído em alguns estabelecimentos comerciais do concelho. Concretamente em hipermercados, porque, nos restaurantes, pelo menos enquanto eu almoço ou janto, o som da televisão ou o som ambiente é reduzido para níveis aceitáveis. E deu-me uma dica sobre uma estratégia que eu irei adoptar já ao longo da próxima semana e que, se resultar, eu divulgarei aqui no JSA.

De facto, a música ambiente é uma agressão, independentemente do género seleccionado e da qualidade da gravação. Com consequências eventualmente graves, sobretudo para a saúde dos trabalhadores que nesses locais suportam diariamente o ruído durante pelo menos oito horas.

Há poucas semanas, Fernanda Câncio (jornalista) na revista domingueira do “Diário de Notícias”, dedicou uma das suas crónicas (também publicada em 5dias.net) a esta epidemia. Ontem, foi António Barreto (sociólogo) que sob a hipotética copa florida de um Jacarandá expressou a sua opinião sobre a mesma “praga urbana”. Hoje, eu decidi que devia trazer este assunto para o JSA porque é uma questão que me preocupa, enquanto TSA, Técnico de Saúde Ambiental, e é afinal uma matéria de Saúde Pública que não pode – não deve continuar a ser negligenciada.

Vamos ver se conseguiremos controlar a “Muzak”, antes que a “Muzak” nos ensurdeça e acabe connosco.

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Ilustração: Imagem recolhida em Amigos do Ambiente: ‘D

2008-09-20

“Nous resterons sur terre” – “Nós ficaremos na Terra” (*)


No próximo dia 9 de Outubro, no final do primeiro dia de trabalhos do “World Forum Lille” sobre a Responsabilidade Social e Ambiental, será exibido em pré-estreia o filme “Nous resterons sur terre”, de Olivier Bourgeois et Pierre Barougier. O filme, que conta com a participação de Mikhaïl Gorbatchev, presidente da Cruz Verde Internacional, Edgar Morin, filósofo, Wangari Maathai, Prémio Nobel da Paz, e de James Lovelock, ambientalista, documenta “a separação entre a terra-mãe generosa e os seus filhos « enfants terribles », e, sem pretender dar respostas conclusivas, “deixa a cada um a liberdade de avaliar o grau de urgência sobre uma certeza: “nós ficaremos na terra”.

Após a projecção, o debate com Wungari Maathai, Prémio Nobel da Paz e presidente do Green Belt Movement (Kenya), será moderado pela jornalista canadense Valérie Borde.

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(*) Tradução livre.

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Ilustração: Imagem recolhida em NaturaVox

2008-09-18

Centro de Interpretação da Torre


Há rios na Beira? Descem da Estrela”, escreveu Miguel Torga, em “Portugal”.

Uma citação que é um bom pretexto para anunciarmos o blogue do Centro de Interpretação da Torre – no Parque Natural da Serra da Estrela –, disponível desde o dia 08/09/01, um mês após a inauguração. Com o objectivo de através da interacção com os leitores divulgar as actividades que promove no âmbito da educação ambiental e da “protecção e promoção do património ambiental da Serra da Estrela”.

Prossegue Miguel Torga: – “Há queijo na Beira? Faz-se na Estrela. Há roupa (…)”.

2008-09-17

Cuidado com o “Óleão”!...



Há cerca e três meses, a Câmara Municipal de Almeirim instalou em diferentes locais do concelho contentores para a recolha de óleos de cozinha usados. A iniciativa é meritória, porque permite a participação activa da população na protecção do ambiente.

Embora não resida naquele concelho, quase diariamente eu atravesso algumas das suas estradas. E reparo nos contentores, colocados em ecopontos situados em locais estratégicos. Reparo, sobretudo, na legenda inscrita em caracteres facilmente legíveis: - “Óleão”.

De início admiti que se tratasse de um lapso. Todavia, depois de consultar o sítio da Câmara Municipal, verifiquei que se trata de um erro ortográfico da responsabilidade da autarquia. Na notícia relativa à “Recolha de Óleos Alimentares usados” escreve-se “(…) 12 “óleões”. Estes equipamentos que foram desenvolvidos pelos serviços de higiene urbana (…)”.

O contentor da fotografia está colocado junto de uma escola do 1º. Ciclo do Ensino Básico, em Foros de Benfica. Como estamos no início do ano lectivo, provavelmente aquela inscrição terá uma função pedagógica, para as professoras ensinarem aos alunos a grafia correcta: - oleão.

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Ilustração: Fotografias por Duarte d’Oliveira (2008, Setembro).

Uma Licenciatura e um Mestrado. Para quê?


Um anúncio, publicado no espaço “Procuro emprego”, dos Clasificados do Número 39 da Newsleter Emprego e Formação da EHS Portugal agora distribuída:

Mestre em Gestão dos Serviços de Saúde pelo ISCTE, com classificação de Bom com distinção por unanimidade - NOV 2007.
Tese de mestrado: Atitudes dos Profissionais de Saúde em Relação aos Resíduos Hospitalares.
Licenciada em Saúde Ambiental, pela ESTES - Coimbra, com média final 15 valores - SET 2001. Com CAP de Formadora.
A exercer funções no serviço de saúde pública de
(…) desde 1999. Grande espirito de trabalho em equípa.

Pretende integrar uma equipa de gestão hospitalar
(…)”.

Um anúncio que nos propõe, entre outras questões eventualmente mais complexas, a seguinte, decididamente primária:

- Uma jovem TSA, Licenciada e Mestre – no caso, em Gestão dos Serviços de Saúde -, no Serviço de Saúde Pública de um Centro de Saúde, algures neste país, a colher amostras de água, a vistoriar cafés e restaurantes, a responder a queixas de insalubridade… sem a menor hipótese de se afastar da rotina. Será mais um(a) TSA cujas competências são menosprezadas. Por quê?

A colega em causa, provavelmente até trabalha num Centro de Saúde cujo director não tem a sequer a assistência de um profissional especialista em Gestão dos Serviços de Saúde…

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Ilustração: Imagem recolhida em Faculdade de Jaguariúna

2008-09-16

O estado amargo de uma Praia Doce



Na margem esquerda do Rio Tejo, a cerca de um quilómetro de distância da estrada-do-dique que estabelece a ligação entre Salvaterra de Magos e a aldeia de Escaroupim, a Praia Doce foi durante dezenas de anos um sítio procurado pelas pessoas da região para se divertirem nos períodos de lazer. Dispunham da sombra das árvores, para conversas amenas e prolongados repastos (piqueniques), e das águas do braço do rio para se refrescarem. Então, o Tejo estaria mais contaminado e poluído do que actualmente; todavia, as pessoas não dispunham da informação a que hoje têm acesso e definitivamente (na generalidade) ignoravam os riscos a que se expunham.

Durante anos, mais de 20 (vinte), no âmbito de sucessivos programas de “Vigilância Sanitária das Zonas Balneares”, eu colhi amostras para a monitorização da água no Rio Tejo, elaborei relatórios sobre as condições hígio-sanitarias da praia, identifiquei e avaliei condições de risco – desde a ocorrência de marés, não sinalizadas, a falta de controlo de qualidade da água de abastecimento (transportada por auto-cisternas dos Bombeiros Municipais) e as obsoletas e sempre degradadas (e sujas, sem limpeza regular) Instalações Sanitárias (IS), até à falta de vigilância para prevenir situações de risco e acudir em casos de emergência. Propondo, sempre, a adopção de medidas – reconheço que umas mais complexas do que outras – para a conversão da Praia Doce num sítio seguro e saudável, sem perda (se não mesmo para a valorização) das características naturais do local.

Há talvez uma dezena de anos, a Câmara Municipal, com o recurso a um financiamento da UE, União Europeia, remodelou a Praia Doce: criou infra-estruturas de saneamento básico, construiu pavilhões de madeira sobre estacas para IS, Arrecadações e um Bar. Entre outros erros, o projecto (que não foi submetido a apreciação pelo Serviço de Saúde Pública) incorreu num muito grave: assegurar o abastecimento de água a partir de um poço (de um poço, repito, não de um furo), numa zona inundável ao ritmo das marés…

Há menos tempo, a Câmara Municipal – agora presidida por Ana Cristina Ribeiro - voltou a investir milhares de euros na reabilitação do espaço. Encerrou o poço, construiu um reservatório aéreo para o abastecimento de água, criou um espaço para o estacionamento de automóveis, acabou com o campismo selvagem (o Parque de Campismo do Escaroupim, da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal, situa-se a menos de 5 quilómetros de distância) e remodelou as pavilhões. Um investimento inútil.

Correctamente: um investimento inutilizado pelo vandalismo de alguns (admitimos que poucos) utentes. Que provavelmente, impunemente, acabaram com a Praia.

Doce, na memória da população salvaterrense.

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Ilustração: Fotografias por Duarte d'Oliveira (2008, Setembro)

2008-09-13

Com as pessoas, para as pessoas


Pelo princípio da tarde de sábado, depois de almoço, tomo um café e saboreio um wisky – propositadamente sem gelo. Estou em minha casa, no escritório, e imerso no silêncio. Apercebo-me do tic-tac do pequeno relógio na cozinha e do deslizar da ponta da roller sobre a folha de papel quadriculado em que escrevo. De quando em quando, vindos lá de fora, oiço o balido de uma ovelha ou o latido distante de um cão. Faltam poucos dias para o Outono chegar – e, neste momento preciso, distrai-me o chilrear de um pássaro que decerto por breves instantes poisou no parapeito exterior da janela.

Ontem, sexta-feira (08/09/12), no meu espaço de trabalho no Centro de Saúde, uma senhora transpôs a porta – sempre aberta - auxiliada por uma bengala para caminhar, e, depois de nos cumprimentarmos, recusou sentar-se porque – disse-me – só queria entregar-me “uma pequena lembrança”.

Dias antes, consultara-me para esclarecer o Parecer Sanitário que eu emitira sobre um seu projecto que a Câmara Municipal me enviara para eu apreciar. E agora voltava só para me entregar “uma pequena lembrança” – uma garrafa de wisky, ví mais tarde, por acaso da marca que eu mais aprecio – e que agora eu saboreio, devagar, em pequeno tragos.

Depois de muitos anos de exercício da profissão de TSA, continuam a comover-me os pequenos gestos das pessoas para quem trabalho – a população do concelho de Salvaterra de Magos. Um trabalho nem sempre compreendido e quantas vezes imcompreendido pela entidade patronal. Que nem sempre concorda com o meu “modus operandi” no âmbito das minhas competências em Saúde Ambiental.

Que não se veja neste pequeno gesto sequer a sombra de uma hipotética tentativa de suborno, de corrupção – que já defrontei e soube resolver, sem denúncia -. É um gesto que eu traduzo como uma forma de reconhecimento, de gratidão, que me anima a prosseguir o trilho por que optei apesar das contrariedades com que por vezes me debato no meu quotidiano profissional.

Histórias de Saúde Ambiental

Se eu me decidir a escrever – trata-se de um projecto antigo, que provavelmente não concretizarei – as “Histórias de Saúde Ambiental – fragmentos do diário de um TSA” -, relevarei um episódio marcante: - Depois de diversas intervenções, inclusivamente por agentes de diferentes entidades fiscalizadoras, na sequência de uma queixa por razões de insalubridade ambiental, eu, sem me afastar dos critérios deontológicos que informam o exercíco da minha actividade profissional, colaborei no processo de encerramento de um estabelecimento (de restauração e bebidas). Todavia, em condições tais que a proprietária do estabelecimento – uma mulher jovem, dinâmica, emotiva -, depois de mais uma reunião em que esteve com uma familiar, perguntou-me, antes de nos despedirmos: - “Posso dar-lhe um beijo?”.

Agora, admitindo que estarei a repetir-me, enquanto saboreio, devagar, em pequenos tragos o wisky do cálice de “The Famous Grouse”, sinto a minha face tingida pelo rubor que não disfarça a timidez mas exalta um dos meus defeitos profissionais: eu trabalho com as pessoas, para as pessoas
.

2008-09-12

“Come bem e mexe-te!”


Do mesmo modo que em Portugal, também no país vizinho uma das maiores preocupações sociais consiste na “necesidad de que, desde la infancia, se adopten habitos de vida adecuados que permitan el desarrollo de uma vida sana y plena”.

Admitindo que “los habitos de vida se forman durante los primeiros años de vida” e que “la escuela constiutye un lugar óptimo para desarrollar programas de educación y promoción de la salud”, os Ministérios da Saúde e da Educação, em conjunto com as “Consejerías de Sanidad y Educación” de seis Comunidades Autónomas, criaram o PERSEU, Programa piloto escolar de referencia para la salud y el ejercício, contra la obesidad”.

São os seguintes, os principais objectivos do programa – que tem como população alvo os alunos das escolas do 1º. Ciclo, crianças entre os 6 e os 10 anos de idade:

- “Promover la adquisición de hábitos alimentarios saludables y estimular la práctica de actividad física regular entre los escolares, para prevenir la aparición de obesidad y otras enfermedades";

- "Detectar precozmente la obesidad y evitar que progrese con evaluaciones clínicas realizadas por profesionales sanitarios de atención primaria";

- "Sensibilizar a la sociedad en general, y sobre todo al entorno escolar, de la importancia que los educadores tienen en este campo";

- "Crear un entorno escolar y familiar que favorezca una alimentación equilibrada y la práctica frecuente de actividad física";

- "Diseñar indicadores sencillos fácilmente evaluables”.

Nós acreditamos na partilha de experiências. Por essa razão, no início do ano lectivo 2008 – 2009, divulgamos o Programa PERSEU. E adaptámos o lema “Come sano y muévete!” para dizermos “Come bem e mexe-te!”.

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Ilustração: Imagem recolhida em Programa PERSEU .

2008-09-11

Amianto


Por vezes, na fase de análise de projectos de arquitectura ou no decurso da realização de vistorias, confrontamo-nos com problemas relacionados com a presença de materiais que contêm ou são susceptíveis de conter amianto. Por vezes, também, somos consultados para esclarecermos onde é que poderão ser depositados os resíduos de materiais com aquela substância (classificada de) perigosa, designadamente de fibrocimento, resultantes da demolição de edificações. Situações que nos impõem a consulta de diversa documentação, para fundamentarmos as decisões que tomamos e as informações que transmitimos.

Aos leitores interessados nesta matéria, sugerimos a consulta do sítio da SIA, Sociedade de Informação do Amianto, Lda., que, sob o lema de “Informar é importante”, publicita (obviamente) os serviços que a empresa presta mas também responde a questões associadas à utilização e à remoção do amianto e disponibiliza de modo bem organizado a Legislação aplicável.

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Ilustração: Fotografia recolhida em Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto .

2008-09-08

Inovação e desenvolvimento


No início do ano lectivo, repusemos na Navbar (a coluna do lado direito, para os leitores do JSA que ainda não dominam o léxico do Blogger) o espaço de Educação. E já tivemos uma surpresa: a DGIDC, Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, inovou e desenvolveu um novo site. Como anuncia na primeira página, “Novo sítio da DGIDC em fase experimental. Caso não encontre o conteúdo que procura, por favor tente no sítio antigo”.

Teremos tempo para avaliar os conteúdos. Entretanto, nós duvidamos que (pelo menos nesta fase) o novo sítio seja mais funcional que o anterior. Mas temos uma certeza, quanto ao design: é pior!. Acumula manchas de texto que não seduzem e só com muito boa vontade (ou por obrigação) é que serão objecto de atenção. Será que no Ministério da Educação não se sabe o que é a estética?

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Ilustração: Imagem recolhida em DGIDC, Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular

2008-09-04

“Aspectos de Salubridade de Lisboa”



Na monografia “Aspectos de salubridade de Lisboa(*), Arnaldo Fallé de Sousa Quental, médico, analisa criticamente as “topografias médicas das quarenta e três freguesias da Capital portuguesa” (os autores não são identificados). Apresentada durante o “Curso de Medicina Sanitária” (1958 – 1959), a monografia, ilustrada com 266 fotografias, desenvolve-se em oito capítulos distribuidos por duas partes: - “a primeira sobre insalubridade habitacional e da via pública, e a segunda acerca da insalubridade de estabelecimentos (…)”.

Se as fotografias iniciais documentam uma cidade que se moderniza, privilegiando as zonas verdes que a pressão urbanística não tardará a asfixiar, as restantes mostram-nos a Lisboa popular, dos prédios degradados e das casas sem condições de habitabilidade, sem água e sem esgotos, com animais domésticos nos quintais e pocilgas nas áreas envolventes, a cidade das vilas e das barracas da mancha populacional que vivia em expressivas condições de pobreza.

Um exemplo: Alcântara

Para a análise crítica da “topografia médica da freguesia de Alcântara (1955)”, o autor seleccionou o texto que transcrevemos:

- “Casas de mau aspecto exterior e interior, sem casa de banho, os quartos sem pé direito conveniente, com janelas pequenas, numa palavra, insalubres”.
- “A freguesia está dotada duma boa rede de esgotos, ligada à rede geral de esgotos da cidade”.
- “Casas em que a luz e a ventilação são insuficientes, sem casa de banho, sem água canalizada”.

Se as condições descritas são más, na “Análise dos lapsos verificados” na elaboração do relatório, o autor sublinha que:

- “Das deficiências apontadas importa salientar a omissão respeitante à ausência de retretes, mesmo em prédios não muito antigos, onde apenas existem pias de despejo (…)”.
- “Existe na verdade, nesta freguesia uma rede de esgotos municipal, porém, não poderá ser classificada de boa porque é frequente o refluxo do seu conteúdo, através de pias, bacias de retrete, sargetas e bocas de inspecção (…)”.

Á guisa de comentário final

Aspectos de Salubridade de Lisboa” é um documento bem organizado e estruturado que nos permite diferentes leituras. Uma confronta-nos com vícios de linguagem e os “lapsos” que cometemos ao avaliarmos os riscos de insalubridade nas acções que desenvolvemos. Outra permite-nos perceber o impacto do progresso social e económico na qualidade de vida das pessoas e das populações. E uma terceira, não menos importante, permite-nos valorizar o papel dos profissionais de saúde pública na protecção e na promoção da saúde.

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(*)Aspectos de Salubridade de Lisboa”, Arnaldo Fallé de Sousa Quental, Direcção-Geral da Saúde, Lisboa, 1961.
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Legendas das fotografias (recolhidas por scanner):

Amontoado de barracas, umas de alvenaria e outras de madeira, circundadas de lixos, excrementos, moscas e outros inconvenientes, onde, entretanto vivem várias famílias pobres” – Fig. 72, página 82.

Adultos e crianças, indiferentes à sua miséria, deixam-se fotografar , sorridentes, junto da fachada duma barraca de alvenaria” – Fig. 73, página 82.

2008-09-03

SESA, Sociedad Española de Sanidad Ambiental


Desactivado durante alguns meses, por motivos técnicos, o site da SESA, Sociedad Española de Sanidad Ambiental está de novo funcional e reapareceu com um novo design e com outros conteúdos.

A primeira página, dinâmica e profusamente ilustrada, facilita em espaços próprios o acesso a outras páginas - páginas sobre os mais diversos temas de Saúde Ambiental, de anúncios de a
cções formativas e de divulgação de documentos editados pela EEA (Agência Europeia do Ambiente), pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela própria SESA.

No seu espaço, a SESA tem (finalmente) oportunidade para apresentar as Conclusões do IX Congresso que se realizou em Sevilha – como anunciámos aqui no JSA - nos três dias finais de Novembro de 2007. Um documento que merece uma leitura atenta, sobretudo pelos TSA, até para confrontarmos os nossos planos e as nossas acções de rotina com os Planos de Saúde Ambiental de algumas regiões do país vizinho e as actividades dos nossos colegas do outro lado da fronteira – colegas cuja formação (ainda) não tem estatuto académico…

Obviamente, um sítio que recomendamos.

2008-09-02

Vítor Manteigas, TSA


Depois de alguns anos em que conseguiu compatibilizar o exercício da profissão de TSA, no Serviço de Saúde Pública do Centro de Saúde de Póvoa de Santa Iria, com o desempenho de funções docentes, Vítor Manteigas, licenciado em Saúde Ambiental e mestre em Saúde Pública, parou no meio da ponte, reflectiu e decidiu: optou pelo ensino.

Uma opção previsível, para quem acompanhou a sua progressão académica e soube ler as mensagens subliminares (e por vezes nem tanto) nas entrelinhas de alguns posts que publicou na Saúde Ambiental.

Nesta fase da sua vida pessoal e profissional, aqui no JSA - do lado de cá da ponte - saudamos o colega Vítor Manteigas (também “aprendiz de fotógrafo”) e assumimos o agradecimento que todos os profissionais de saúde ambiental devem a quem por carolice e decerto lutando contra muitas contrariedades trouxe para o domínio público os “Desempenhos de um Técnico de Saúde Ambiental”.

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Ilustração: Fotografia que publicámos, aqui no JSA, em
05/09/07.

2008-09-01

Morrer no fundo de um poço


Fugiria da polícia, que o perseguia “com as sirenes accionadas”, por não ter obedecido a uma “ordem de paragem”. Depois de abandonar a motorizada “e o capacete”, continuara a fuga “a pé por um pequeno carreiro entre quintais”. E, eventualmente por “falta de iluminação”, saltou um muro e caiu “desamparado” num poço. Os militares da GNR não conseguiram salvá-lo e o corpo do jovem “seria retirado cerca das 07.00 pelos bombeiros depois de bombearem parte dos dois metros de altura de água para chegarem ao fundo”.

Para terminar a notícia, publicada no “Diário de Notícias” (edição de 08/08/29) sob o título “Jovem que fugia à polícia caiu em poço e morreu”, escreve Júlio Almeida que o jovem “deixa um filho de um ano e a companheira grávida”.

Noutras circunstâncias, mas também dramáticas e trágicas, a queda em poços é um tipo de acidente que é frequentemente objecto de notícia. Notícia de acidentes evitáveis, absolutamente evitáveis. se se cumprisse uma disposição legal: a protecção dos poços por cobertura, resistente e eficaz.

No Capítulo XI, relativo à Protecção de Pessoas e Bens, do Decreto-Lei Nº 310/2002, de 18 de Dezembro, o Número 1., do Artigo 42º, dispõe que é “obrigatório o resguardo ou a cobertura eficaz de poços, fendas e outras irregularidades existentes em quaisquer terrenos e susceptíveis de originar quedas desastrosas a pessoas e animais”. E o Número 1, do Artigo 44º, esclarece que se considera “cobertura ou resguardo eficaz, para efeitos do presente diploma, qualquer placa que, obstruindo completamente a escavação, ofereça resistência a uma sobrecarga de 100 kg/m2”.

Numa atitude de manifesta falta de civismo e de indiferença em relação à segurança, alguns proprietários dos terrenos onde existem poços não cumprem aquelas disposições. Todavia, se para a prevenção do tipo de acidentes que provocou este post existe legislação, talvez não haja fiscalização. Fiscalização rigorosa, que, como estabelece o Número 1., do Artigo 52º daquele Decreto-Lei, “compete à câmara municipal, bem como às autoridades administrativas e policiais”.

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Ilustração: Fotografia recolhida (por scanner) no “Diário de Notícias” (edição de 08/08/29).