Foram centenas as pessoas (população anónima, autarcas, profissionais de saúde, colegas, amigos e familiares) que hoje (08/08/05) se reuniram em Coruche, na Igreja da Misericórdia e nas imediações, para, em silêncio, prestarem uma derradeira homenagem a Moisés Almeida, TSA. Que faleceu ontem, cerca de seis meses depois de lhe ter sido diagnosticada uma doença grave: cancro do pulmão.
No final do ano passado, em Dezembro, eu estive com o Moisés no hotel onde se realizou o Seminário sobre Controlo de Qualidade nos Estabelecimentos Termais. Reencontrei-o antes do inicio da sessão da tarde, no hall do hotel, a conversar com Sílvia Silva (que eu não conhecia pessoalmente). Apresentei-me e depois, enquanto acendia um cigarro, comentei com natural ironia algo como “porque a partir do primeiro dia do próximo ano me será interdito, deixem-me fumar um cigarro, aqui… ”. A colega afastou-se, para regressar à sala, e nós continuámos a conversar sobre o tabagismo, a aplicação da legislação e a liberdade dos cidadãos fumadores e não fumadores - nomeadamente nas unidades de saúde. A seguir falámos de acontecimentos banais, mas particularmente curiosos no nosso quotidiano profissional. Disse-me o Moisés (que optara por não almoçar no hotel) que tivera no restaurante que escolhera (“O Polícia”, creio, perto da sede da Fundação Gulbenkian) um “encontro de 3º grau”: pouco depois de se sentar à mesa viu transpor a porta, também para almoçar, António Nunes, Presidente da ASAE. E eu relatei-lhe que tivera melhor sorte: acidentalmente partilhei a mesa com algumas pessoas que já conhecia, das Termas de Cabeço de Vide, e outra, que não conhecia (MSP, Delegada de Saúde de Cascais) mas cuja figura me surpreendia (e o Moisés concordou comigo) por ser sósia de Vera Noronha, Engenheira Sanitarista na SRS de Santarém. Apaguei o cigarro, para voltar para a sala onde os trabalhos estavam prestes a recomeçar. Mas o Moisés não entrou. Observou-me (cito-o de memória, obviamente): - “Eu vou visitar a Luísa (Luísa Portugal, MSP, ex-Delegada de Saúde de Coruche), que trabalha aqui perto”. Pedi-lhe para a saudar em meu nome e despedimo-nos.
Não voltámos a reencontrar-nos, com tempo para conversarmos.
Na bela porque simples igreja da Misericórdia de Coruche, durante a celebração da missa que precedeu o préstito fúnebre - até ao cemitério (a cerca de um quilómetro de distância do Centro de Saúde) onde os Bombeiros Voluntários desceram a urna ao fundo da cova -, o sacerdote referiu-se às últimas conversas que tivera com o Moisés. E que este acedera a ser ungido pelo sacramento da Extrema-unção.
Eu, descrente mas não ateísta, acredito que as pessoas só morrem quando desaparecem da memória.
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Ilustração: Fotografia de Sérgio Afonso, recolhida em Olhares – Fotografia Online
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