Estava uma manhã de sol, e eu ainda não abandonara o vestuário clássico de quem vivera em Moçambique. De “balalaika” de cor clara apresentei-me no Centro de Saúde de Salvaterra de Magos, no centro da vila, junto do jardim público e a pouco mais de 50 metros da Câmara Municipal. O acesso era por um portão desengonçado, de ferro ferrugento. Atravessava-se um pequeno pátio e ao fundo, ao lado de uma oficina de ferrador, a porta da Secretaria.
Uma futura colega atendeu-me e conduziu-me por um corredor estreito e escuro até ao Gabinete do Director, então também Delegado de Saúde. Depois da apresentação, fiquei a saber qual seria o meu espaço de trabalho: a sala ao lado, no prolongamento do corredor entre a Secretaria e o Gabinete da Direcção. O mobiliário era simples: uma secretária, uma cadeira e uma marquesa, e – talvez, não me lembro – um armário-estante para a arrumação de papéis: Processos de Obras, “Dossiers”, Impressos…
Estávamos em 1982, decorria o dia 16 de Agosto.
Entretanto, passaram-se 26 anos.
Hoje, o Centro de Saúde está instalado num edifício com poucos anos, razoavelmente funcional, situado na avenida principal da vila. No meu espaço de trabalho, embora com um vão de janela no alçado principal, a iluminação natural é escassa e a ventilação é mínima. Mas dispõe do mobiliário necessário para o exercício da actividade: secretária, mesa, estantes, cadeiras e está equipado com telefone e computador com acesso à Internet.
É, porém, tempo de eu me aposentar. De ceder o lugar a gente nova. Já lá vão quase 40 anos desde que eu ingressei no exército para prestar serviço militar (então, obrigatório). Iniciarei agora a recolha da documentação necessária para formalizar o meu pedido de aposentação.
Mas prometo: porque gosto da profissão que exerço, se me for concedida a aposentação, o JSA continuará. Com a colaboração dos leitores.
5 comentários:
Olá! Queria dizer-lhe que sou sua colega de profissão e que, por coincidências da vida, nasci no ano em que iniciou funções aí em Salvaterra. Gosto muito de cá vir espreitar o seu jornal e espero que continue a actualizá-lo mesmo depois da merecida aposentação.
Felicidades!
Cristina
Olá, Cristina!
Agradeço-lhe o seu comentário. E confidencio-lhe (aqui, que ninguém nos ouve), que eu aprecio (muito) a irreverência da sua página, entre o céu e o mar: http://namaste-entreceuemar.blogspot.com/2008_08_01_archive.html . Na qual, há poucos dias, eu hesitei em registar um comentário.
Porque (“A vida tem destas coisas...”) eu também fiquei chocado com o concurso… Sobretudo porque eu estava a substituir (na colheita de amostras de água) o colega – ausente, por motivo de doença – e esperava que se reabilitasse para retomar o seu posto de trabalho.
Um abraço.
Duarte d’Oliveira
O Entre céu e mar é mais um blog pessoal do que profissional mas sinta-se à vontade para comentar sempre que queira, porque afinal, de quando em vez lá aparecem relatos das nossas aventuras de profissão :)
Em jeito de despedida !
Meu caro Duarte Oliveira, li no seu blogue, vai aposentar-se.
Quem diria, já passaram 26 anos, desde aquele nosso primeiro cumprimento, no antigo edifício (provisório) do centro de saúde. Pelo caminho, não nos devemos esquecer o que fez ao pouco espólio cultural que existia nesta vila. A taberna da avenida, aquela do Victor, lembra-se!
A seu tempo, já tive oportunidade, em artigo no JVT, de o criticar daquela tamanha maldade, que ficará registada na história desta terra, isso lhe garanto eu!... O homem rural ali se reunia e contava o seu passado. As gerações novas, ávidas de saber, procurava-os. Hoje, têm a internet, que lhes debita tanta informação, que nada diz. Se tiver tempo, no muito que vai dispor, aconselho-o a ler o romance “Os dias longos” da escritora Ângela Sarmento, que dá a conhecer a vida trágica e humilhante do trabalhador rural desta terra, que um dia o acolheu, já lá vai tanto tempo. Talvez, assim o seu pecado, seja menos penoso a expiar.
Com os meus cumprimentos
José Gameiro
Agradeço o seu comentário.
Até porque me concede a oportunidade de mais uma vez esclarecer (aquí, sumariamente - mas poderei voltar ao assunto) que eu não encerrei o estabelecimento que refere. Não encerrei (não tinha e não tenho competência para encerrar o que quer que seja) e também fiquei surpreendido com o súbito desaparecimento da taberna.
Lembro-me do seu artigo no JVT (jornal em que também colaborei com alguns, poucos, artigos assinados com um pseudónimo da minha idade juvenil). Li-o e lembro-me que não refutei a acusação por duas três razões, das quais – aquí e agora – eu evoco uma: apesar de nos conhecermos, de nos encontrarmos frequentemente, não me questionou para tentar saber a verdade. Pelo menos, para saber qual foi a minha intervenção (enquanto profissional de saúde, TSA) no processo. Então, por múltiplas razões, foi relativamente fácil escolherem-me para “bode expiatório”.
Agradeço-lhe a sugestão de ler o romance da Ângela Sarmento. E se me permite corresponder também com uma proposta literária, eu recomendo-lhe a leitura de “Viver com os Outros” (uma obra recentemente reeditada, da Isabel da Nóbrega – irmã da mulher que assina com o pseudónimo de Angela Sarmento) e aperceber-se da importância do diálogo.
Termino como acabei: agradeço-lhe o seu comentário.
Duarte d'Oliveira
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