2008-08-29

Tu és branco. Já te imaginaste como claro?


Até 1975, eu vivi durante alguns anos em África, em Moçambique. Precisamente, em Quelimane, na Zambézia, uma cidade “multirracial” - no contexto do artigo de Maria José Oliveira no "P2" (“Público”, de 08/08/28). - Uma cidade onde coexistiam diferentes comunidades, com culturas distintas, apesar da filosofia política predominante. Ou, se quisermos, do regime político dominante, contestado em (ou por) todas as comunidades.

Muito tempo antes da Revolução de Abril (1974), confrontei-me uma vez com a questão racial. Premeditadamente, no decurso de uma das muitas discussões em que nos envolvíamos “para endireitar o mundo”, um dos meus amigos provocou-me: - “Vocês, os brancos, têm a mania de ...”. E continuámos a discutir, com a participação activa de outros amigos, agora sobre a cor de uns e de outros. E um dos nossos amigos disse-nos: - “Eu sou preto, não sou negro”. - E prosseguiu, apontando-me: - “Tu és branco. Já te imaginaste como claro?”.

Nós continuámos a conversar (a discutir) e a beber cerveja, numa esplanada à beira do Rio dos Bons Sinais. Mas desde então, apesar do conceito de “negritude” de Léopold Senghor (que reinvindicou a ascendência portuguesa), eu digo branco e digo preto. Se for preciso dizer – claro!

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Ilustração: “Mãe Preta Branca”, obra de Margaritta Lamegho, recolhida em Margaritta Lamegho .

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