2008-08-09

Pela televisão, um crime em directo


Se “antes de nós já outros o fizeram” (como disse um poeta moçambicano, noutro contexto), decerto que melhor do que nós o faríamos, porque razão não havemos nós de reproduzir o texto que alguém escreveu sobre um acontecimento trágico que marcou a noite televisiva de sexta-feira (08/08/07), um serão que transpôs a fronteira da televisão e que a silly season tende a transformar num acontecimento de banal criminalidade que a polícia resolveu eficazmente. Apesar da morte em directo, ou do assassinato em directo praticado por um atirador (sniper) policial, em nome da lei.

Copiamos integralmente o post “Sequestros e epítetos”, que o JPT publicou na suama-shamba”:

Em Lisboa um assalto a um banco com sequestro. Dois assaltantes, trabalhadores da construção civil ali em part-time. Já identificados (o Expresso entrevista um primo de um assaltante ali em contacto com a polícia durante o assalto). A polícia decide abatê-los. Parece uma medida pedagógica, para que hipotéticos sequestradores pensem bem no que se meterão (”se a moda pega”!). Que custaria deixar partir os pilhas-galinhas, para onde poderiam escapar a médio prazo? O Estado tem o monopólio da violência legítima. Mas não da exagerada.

A televisão pública passa 15 minutos do seu telejornal a mostrar o rescaldo do assalto. Com particular pormenor, e repetidamente, os tiros certeiros. O reality show da morte - afã que a própria blogosfera louva. Um nojo imoral. Uma estupidez. Gente que nem pensa.

Há algumas semanas Portugal parou a discutir uma cena de tiroteio entre ciganos e negros. Foi um aqui d’el rei/ó da guarda. Na voz de muitas boas almas também porque alguns chamaram ciganos e negros aos envolvidos, assim denotando racismo, preconceito. Assim levando a que se tomassem negros e ciganos como globalmente marginais. Agora não se escutam as boas almas protestando com o facto de se chamarem “brasileiros” aos assaltantes abatidos. Melhor prova que as boas almas não pensam, que o verdadeiro preconceito nelas habita (”negro” ou “cigano” parece mal, “brasileiro” não faz mal”). Mero movimento nacional feminino d’hoje.”.

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Ilustração: Fotografia recolhida em estadao.com.br

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