Na monografia “Aspectos de salubridade de Lisboa” (*), Arnaldo Fallé de Sousa Quental, médico, analisa criticamente as “topografias médicas das quarenta e três freguesias da Capital portuguesa” (os autores não são identificados). Apresentada durante o “Curso de Medicina Sanitária” (1958 – 1959), a monografia, ilustrada com 266 fotografias, desenvolve-se em oito capítulos distribuidos por duas partes: - “a primeira sobre insalubridade habitacional e da via pública, e a segunda acerca da insalubridade de estabelecimentos (…)”.
Se as fotografias iniciais documentam uma cidade que se moderniza, privilegiando as zonas verdes que a pressão urbanística não tardará a asfixiar, as restantes mostram-nos a Lisboa popular, dos prédios degradados e das casas sem condições de habitabilidade, sem água e sem esgotos, com animais domésticos nos quintais e pocilgas nas áreas envolventes, a cidade das vilas e das barracas da mancha populacional que vivia em expressivas condições de pobreza.
Um exemplo: Alcântara
Para a análise crítica da “topografia médica da freguesia de Alcântara (1955)”, o autor seleccionou o texto que transcrevemos:
- “Casas de mau aspecto exterior e interior, sem casa de banho, os quartos sem pé direito conveniente, com janelas pequenas, numa palavra, insalubres”.
- “A freguesia está dotada duma boa rede de esgotos, ligada à rede geral de esgotos da cidade”.
- “Casas em que a luz e a ventilação são insuficientes, sem casa de banho, sem água canalizada”.
Se as condições descritas são más, na “Análise dos lapsos verificados” na elaboração do relatório, o autor sublinha que:
- “Das deficiências apontadas importa salientar a omissão respeitante à ausência de retretes, mesmo em prédios não muito antigos, onde apenas existem pias de despejo (…)”.
- “Existe na verdade, nesta freguesia uma rede de esgotos municipal, porém, não poderá ser classificada de boa porque é frequente o refluxo do seu conteúdo, através de pias, bacias de retrete, sargetas e bocas de inspecção (…)”.
Á guisa de comentário final
“Aspectos de Salubridade de Lisboa” é um documento bem organizado e estruturado que nos permite diferentes leituras. Uma confronta-nos com vícios de linguagem e os “lapsos” que cometemos ao avaliarmos os riscos de insalubridade nas acções que desenvolvemos. Outra permite-nos perceber o impacto do progresso social e económico na qualidade de vida das pessoas e das populações. E uma terceira, não menos importante, permite-nos valorizar o papel dos profissionais de saúde pública na protecção e na promoção da saúde.
……………………
(*) “Aspectos de Salubridade de Lisboa”, Arnaldo Fallé de Sousa Quental, Direcção-Geral da Saúde, Lisboa, 1961.
Se as fotografias iniciais documentam uma cidade que se moderniza, privilegiando as zonas verdes que a pressão urbanística não tardará a asfixiar, as restantes mostram-nos a Lisboa popular, dos prédios degradados e das casas sem condições de habitabilidade, sem água e sem esgotos, com animais domésticos nos quintais e pocilgas nas áreas envolventes, a cidade das vilas e das barracas da mancha populacional que vivia em expressivas condições de pobreza.
Um exemplo: Alcântara
Para a análise crítica da “topografia médica da freguesia de Alcântara (1955)”, o autor seleccionou o texto que transcrevemos:
- “Casas de mau aspecto exterior e interior, sem casa de banho, os quartos sem pé direito conveniente, com janelas pequenas, numa palavra, insalubres”.
- “A freguesia está dotada duma boa rede de esgotos, ligada à rede geral de esgotos da cidade”.
- “Casas em que a luz e a ventilação são insuficientes, sem casa de banho, sem água canalizada”.
Se as condições descritas são más, na “Análise dos lapsos verificados” na elaboração do relatório, o autor sublinha que:
- “Das deficiências apontadas importa salientar a omissão respeitante à ausência de retretes, mesmo em prédios não muito antigos, onde apenas existem pias de despejo (…)”.
- “Existe na verdade, nesta freguesia uma rede de esgotos municipal, porém, não poderá ser classificada de boa porque é frequente o refluxo do seu conteúdo, através de pias, bacias de retrete, sargetas e bocas de inspecção (…)”.
Á guisa de comentário final
“Aspectos de Salubridade de Lisboa” é um documento bem organizado e estruturado que nos permite diferentes leituras. Uma confronta-nos com vícios de linguagem e os “lapsos” que cometemos ao avaliarmos os riscos de insalubridade nas acções que desenvolvemos. Outra permite-nos perceber o impacto do progresso social e económico na qualidade de vida das pessoas e das populações. E uma terceira, não menos importante, permite-nos valorizar o papel dos profissionais de saúde pública na protecção e na promoção da saúde.
……………………
(*) “Aspectos de Salubridade de Lisboa”, Arnaldo Fallé de Sousa Quental, Direcção-Geral da Saúde, Lisboa, 1961.
.....................................
Legendas das fotografias (recolhidas por scanner):
“Amontoado de barracas, umas de alvenaria e outras de madeira, circundadas de lixos, excrementos, moscas e outros inconvenientes, onde, entretanto vivem várias famílias pobres” – Fig. 72, página 82.
“Adultos e crianças, indiferentes à sua miséria, deixam-se fotografar , sorridentes, junto da fachada duma barraca de alvenaria” – Fig. 73, página 82.
“Amontoado de barracas, umas de alvenaria e outras de madeira, circundadas de lixos, excrementos, moscas e outros inconvenientes, onde, entretanto vivem várias famílias pobres” – Fig. 72, página 82.
“Adultos e crianças, indiferentes à sua miséria, deixam-se fotografar , sorridentes, junto da fachada duma barraca de alvenaria” – Fig. 73, página 82.
Sem comentários:
Enviar um comentário