2009-06-02

Mitigar a fome, preservar a saúde


Durante o fim-de-semana, milhares de voluntários colaboraram activamente na campanha promovida pelo Banco Alimentar Contra a Fome. Sobretudo nos hipermercados, distribuiram sacos às pessoas que entravam para os recolherem à saída eventualmente com as ofertas de cada uma. E as pessoas foram generosas. Neste período difícil que atravessamos, com o desemprego a crescer diariamente, com cada vez mais famílias a subsistirem com o Rendimento Mínimo (e outras completamente dependentes de terceiros), os voluntários recolheram 1935 toneladas de alimentos que serão distribuidos por milhares de famílias carenciadas. Através das instituições de solidariedade social de muitas localidades.

Os produtos alimentares oferecidos são de natureza diversa, alguns perecíveis. Eu sei, pessoalmente – informação também disponível no respectivo sítio -, que os colaboradores da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome cumprem orientações rigorosas no manuseamento, acondicionamento, transporte e armazenamento desses produtos alimentares. Porém, talvez o mesmo não aconteça em algumas das instituições de solidariedade social.

Reconheço que esta matéria é delicada. Todavia, eu entendo que deve ser objecto de atenção pelas entidades fiscalizadoras e/ou com responsabilidades na vigilância sanitária no âmbito da segurança alimentar, designadamente pelos Serviços de Saude Pública de cada Centro de Saúde. Para se prevenirem riscos susceptíveis de afectar a saúde das pessoas beneficiadas. Pelas mais diferentes razões, desde a falta de formação à negligência das pessoas envolvidas.

Ainda recentemente, no decurso de uma vistoria (por outros motivos) às instalações de uma dessas entidades, em conjunto com representantes de outras entidades, eu fui encontrar numa garagem transformada improvisadamente em armazém um frigorífico do tipo doméstico desactivado e algumas poucas caixas de cartão com produtos alimentares em cima de uma mesa onde se acumulavam outros materiais. Movido pela curiosidade (como referi, a vistoria tinha outro objectivo), espreitei para as caixas e chamei a atenção do responsável dessa instituição para o facto de haver embalagens de margarina (que carecem de conservação no frio) sem protecção e de outros produtos alimentares (bolachas e massas, entre outros) roídas por ratos. Observei que aqueles produtos não estavam em condições para serem consumidos e que deveriam ser removidos para o lixo. Aquele responsável respondeu-me (literalmente) que não tinha dinheiro para criar outras condições de armazenamento e que a família destinatária apesar de avisada ainda não fora levantar as caixas... Família que (como fiquei a saber) vivia a cerca de 20 (vinte) quilómetros de distância…

Repito: - “reconheço que esta matéria é delicada. Todavia, eu entendo que deve ser objecto de atenção pelas entidades fiscalizadoras e/ou com responsabilidades na vigilância sanitária no âmbito da segurança alimentar”. Para se respeitar a generosidade de quem partilha, se responsabilizar quem distribui e se proteger a dignidade de quem recebe.

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Ilustração: Imagem recolhida em Banco Alimentar

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