2008-05-26

1968, Maio


1968, Maio. Em Paris

A malta, a gente ainda jovem, estudantil, trocou a Universidade e o Liceu pelas ruas. Para se manifestar, sem reivindicações materiais. Por outras formas de ser e de estar, de pensar e de agir. Em democracia, num ambiente de liberdade. Nas ruas, distantes da periferia, dos bidonville dos portugueses emigrantes.

1968, Maio. Na Covilhã

Às escondidas, nós líamos (Jean Paul) Sartre e Simone de Beauvoir, também (Herbert) Marcuse, no original ou numa versão portuguesa em páginas policopiadas em stencil. Cantávamos as cantigas do José Afonso, do Adriano (Correia de Oliveira), do Luís Cília e do Padre Fanhais… Ouvíamos Jacques Brell e a voz onírica de Juliette Gréco – a (eterna) musa de Saint-Germain-des-Prés. Víamos ao filmes censurados de Jean Luc Godard e de outros cineastas da Nouvelle Vague e pela noite sintonizávamos em onda curta as emissões de rádio que de Argel e de Moscovo nos diziam o que se passava em Portugal – no "Portugal Amordaçado", como o Mário Soares escreveria - e em Paris.

Na sub-cave do Hotel Solneve, entre cafés e bagaços, com muitos cigarros, discutíamos o quotidiano, falávamos sobre os livros e os filmes que líamos e víamos. E Escrevíamos. Poemas e pequenos contos que publicávamos nos suplementos juvenis do Diário de Lisboa e do República.

Lembro-me do meu primeiro texto que o Mário Castrim (não me lembro se já com a colaboração da Alice Vieira) seleccionou para a primeira página (ao fundo) de uma das edições do Juvenil do Diário de Lisboa. Chamava-se “O Circo” e acabava com um verso de apelo: - “Por favor, mandem calar os palhaços!”.

1968, Maio

Eu tinha 20 anos.

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Ilustração: Fotografia de Jean-Claude Seine - Journaliste Reporter d'Images

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