2006-09-15

Milagrosa, talvez, mas com cloro


“Não fora o José Marques ter-se aposentado, e eu, provavelmente, jamais me lembraria do sabor desta água…”

Enquanto aluno do curso que frequentava no INSA (Delegação do Porto) e de estagiário no Centro de Saúde Distrital de Santarém (em breve, ex-Sub-Região de Saúde de Santarém), com Nuno Pacheco, ES, e José Marques, TSA, no CS de Ourém, há uns anos, no início da década de 80, eu estive em Fátima numa vista técnica, de rotina, a um dos abastecimentos de água do Santuário.

Junto ao Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, descemos umas escadas (de acesso condicionado) até à nascente que abastecia (abastece?) as/algumas das fontes existentes no Santuário. Uma gruta, húmida, com estalactites e (então) uma conduta de esgoto, visível, ao longo da parede mais distante. No túnel de acesso, uma bomba doseadora de cloro. Para se assegurar a desinfecção da água e proteger-se a saúde das pessoas, crentes e não crentes, que, muitas vezes para se aliviarem dos males que as afectavam, bebiam (bebem?) água daquelas fontes.

Por parte da administração do Santuário houve resistência à instalação do sistema de desinfecção. Todavia, devido à constante contaminação microbiológica, a alternativa mais suave consistia na afixação de cartazes com a indicação de “Água Imprópria para Consumo O que, decididamente, seria incompatível com a natureza do lugar e as proféticas qualidades terapêuticas da água.

Para os crentes, beber a água do Santuário, a água de Nossa Senhora de Fátima, terá efeitos miraculosos. É uma questão de Fé. Mas se não fosse a persistência do TSA José Marques, muitos crentes, peregrinos ou simples turistas que beberam (e bebem) daquela água provavelmente regressariam a casa na melhor das hipóteses com uma forte e muito profana dor de barriga…

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Ilustração: Fotografia recolhida em
http://catedral.weblog.com.pt/arquivo/015886.html .

1 comentário:

teessea disse...

Na sequência da publicação deste post, o Pasquim de Saúde Ambiental (hiperligação no espaço de Saúde Ambiental, na coluna ao lado)– sempre atento e bem informado – noticia em primeira-mão que “a Direcção-Geral da Saúde e o Episcopado criaram um grupo de trabalho conjunto com vista à elaboração de dois manuais de boas práticas (…)”, dois documentos que decerto contribuirão para a promoção da qualidade em matérias que têm sido negligenciadas (a rotina…) pelos profissionais de Saúde Pública, sobretudo MSP e TSA.

Aos leitores do JSA, sugerimos que leiam “A santidade não é bactericida”.