Há uns anos, acreditava-se que “A comemorar também se aprende”. Depois, progressivamente, com a banalização do “Dia de Qualquer Coisa”, qualquer iniciativa dessa natureza já não mobiliza as populações.
Pelos noticiários, soubemos que o Conselho de Ministros se reuniu no Algarve e que aprovou um conjunto de diplomas que perspectiva a protecção e a promoção do ambiente. Vamos esperar que sejam publicados, lê-los e depois eventualmente voltaremos aqui ao Jornal de Saúde Ambiental para os comentarmos.
Soubemos, também, que um grupo de escuteiros de Portalegre promoveu a limpeza de uma determinada área da Serra de S. Mamede. Provavelmente noutros locais foram desenvolvidas acções semelhantes. São acções isoladas, sem continuidade. Valem o que valem. Demonstram que consciente ou inconscientemente continuamos a agredir o ambiente em que vivemos. A pôr em causa a sustentabilidade do meio. A pôr em causa a nossa sobrevivência como espécie.
No Dia Mundial do Ambiente, 05/06/05
Vivemos num lugar isolado no Centro do país. Perto de uma ribeira, junto de um prado onde pastam ovelhas, num local aonde se acede por uma ponte cujo piso é de traves de madeira (traves que trepidam sob a passagem de um automóvel) e por um caminho alcatroado, marcado por postes onde nidificam as cegonhas.
O trânsito automóvel é rarísssimo. Defronte de casa não passam dez automóveis por dia. Dormimos tranquilamente; acordamos de madrugada com o cantar dos galos, o chilrear dos pássaros, o balir das ovelhas.
Um espaço (que parece) idílico.
Ontem, Dia Mundial do Ambiente, não saímos de casa. Ao fim da tarde, quando quisemos ir para o pequeno quintal, no logradouro posterior, tomar uma bebida fresca e ler, reparámos numa senhora idosa, vestida de preto, que a cerca de 50 metros de distância atravessava o campo. Quando a vimos baixar-se por detrás de um arbusto, afastámo-nos rapidamente. Por pudor. Cerca de uma hora mais tarde, quando voltámos ao quintal, a mesma senhora estava de cócoras, eventualmente a urinar.
Retirámo-nos, consternados. Em 2005, na Europa, ainda há um lugar onde haverá habitações sem casa de banho.
Os escuteiros de Portalegre, terão procedido à recolha de resíduos na Serra de S. Mamede. O Governo terá aprovado a Lei da Água, entre outros diplomas. Mas, ali, no lugar onde moramos, uma vizinha ainda cumpre um hábito antigo mais consentâneo com o século XVIII.
Repito: Ontem, Dia Mundial do Ambiente, uma senhora idosa ainda cumpre um hábito antigo mais consentâneo com o século XVIII.
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