2010-03-30

Valença sem valência


O interior de Portugal desertifica-se. As populações emigram para as cidades, sobretudo para as cidades da costa atlântica. As causas são diversas, as consequências também.

São mínimos ou inexistentes os investimentos em infra-estruturas, não se dinamizam as actividades industrial e comercial, encerram-se serviços públicos. As crianças e os jovens frequentam escolas longe de casa, os pais procuram emprego nos grandes centros urbanos ou no estrangeiro. Ficam os velhos, os idosos - muitos ou quase todos beneficiários de reformas de baixo valor, sem capacidade financeira para assegurarem o funcionamento de pequenos estabelecimentos: uma mercearia, um café… E desenvolvem-se outros modelos de comércio e de prestação de serviços: venda itinerante de produtos alimentares (carne, mercearias e pão, peixe…); assistência social (distribuição de refeições ao domicílio, higiene pessoal e doméstica…); de cuidados de saúde (ainda escassos e apenas em algumas regiões do país)… Que atenuarão a solidão das pessoas mas não evitam o abandono nem a degradação dos lugares e das aldeias.

Não sei porquê, ou talvez saiba, na sequência das notícias sobre o encerramento do SAP, Serviço de Atendimento Permanente em Valença, lembrei-me que há pouco mais de um mês, pela noite, apercebi-me de uma viatura do INEM em manobras diante de minha casa (eu moro num desses pequenos lugares). Acendi as lâmpadas do exterior e abri a porta. Procuravam uma senhora idosa, septuagenária. Por causa de “um problema de coração” – disse-me o motorista…

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Ilustração: Fotografia recolhida em Renascença

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