2010-03-21

Não sujar, mas…


Ontem (10/03/21), véspera do Dia da Árvore, milhares de pessoas – desde o cidadão anónimo a Cavaco Silva, Presidente da República - sairam de casa para “Limpar Portugal”. Apesar da chuva que caíu em algumas regiões, sobretudo durante a manhã, foram recolhidas dezenas de toneladas de lixo que foram transportadas com a colaboração do governo (*) para ecocentros e/ou aterros sanitários.

Em casa, acompanhei as notícias pela televisão e num apontamento de reportagem ouvi o Presidente da República sugerir uma outra acção – creio que “Vamos não sujar Portugal” – que me lembrou uma antiga questão: - Porque razão se suja Portugal?

Há uns anos, a Isabel e o Pedro decidiram dedicar um fim de semana a limpar a arrecadação de casa. No final, encheram a mala do carro e ocuparam o banco de trás (protegido por uma velha cortina de chuveiro) com um televisor avariado e sem reparação, duas cadeiras partidas, um balde com ferrarias várias e até uma caixa de cartão com jornais e revistas já com as páginas amarelecidas. Depois percorreram mais de uma dezena de quilómetros para depositarem o lixo no ecocentro mais próximo. Quando chegaram, encontraram o portão encerrado – e, desiludidos, optaram por depositar a tralha junto do portão. Disse-me a Isabel: - “Ainda bem que ninguém nos viu, senão ainda teriamos de pagar alguma multa….”.

Algures no norte do país, porque o contentor estava cheio e o autocarro se aproximava, a senhora depositou o saco do lixo (doméstico) no chão, embora junto do contentor. Procedimento que não escapou à vigilância de um polícia que circulava no local. Zelosamente, o agente da autoridade citou-lhe a lei e aplicou-lhe uma multa de algumas centenas de euros, sem atender à justificação da senhora – que acabou por perder o autocarro e terá chegado tarde ao emprego…

Também há uns anos, chegou a um ecocentro uma camioneta carregada de papel - “Mais de uma tonelada de papel, sobretudo de Diários da República” , disse-me quem me relatou o caso. – O encarregado do centro de triagem aproximou-se do motorista e iniciou os procedimentos regulares. Quando ouviu falar em taxas, o motorista fez um telefonema e a seguir despediu-se. Deu meia volta, saíu do parque e duas ou três centenas de metros mais à frente parou a viatura junto de um ecoponto – onde com a ajuda dos operários que o acompanhavam despejou o lixo. Sem custos…

Estes três casos são meramente ilustrativos de comportamentos que justificarão a questão e talvez uma reflexão. Porque se há muitas e boas razões para se limpar portugal, também há outras tantas e muito diversas que concorrem para se sujar o país. Nem sempre motivadas por falta de civismo.

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(*) Explicitamente, através da Portaria Nº 165/2010, de 16 de Março, que "Estabelece um regime excepcional aplicável ao «Projecto Limpar Portugal» ".
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Ilustração: Fotografia recolhida em Young Reporters for the Environment

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