2008-10-14

Sebastião Alba


Há uns anos, pela manhã, em Braga, diz-se que depois de na estação se despedir de um amigo que partia de combóio, foi atropelado na autoestrada que atravessa a cidade como se fosse uma avenida. O corpo caído no asfalto terá obrigado à presença do Delegado de Saúde e do Delegado do Ministério Público, de polícias e de bombeiros e foi, depois, removido para a morgue. Onde somente dois ou três dias mais tarde foi identificado.

Era o Diniz.

O automobilista que o atropelou fugiu e não mais foi encontrado.

Passaram-se precisamente oito anos.

Enquanto beberrico uma aguardente velha, como no tempo em que bebíamos cerveja pelos bares da cidade do Rio dos Bons Sinais, folheio alguns dos apontamentos que me restam – “Os poetas moçambicanos são os mais antologiados do mundo”, disse-me – do projecto que ficou por aí, disperso, em caixas de cartão a que o pó e a humidade generosamente concederam o destino mais certo. Mas reencontrei a fotografia que publico e o poema – que na edição de “O Ritmo do Presságio”, para a colecção “O Som e o Sentido”, da Académica, Lda. (Lourenço Marques, 1974) - o Sebastião Alba dedicou ao Rui Knopfli (página 115, a última):

Como os outros

Como os outros discípulo da noite
frente ao seu quadro negro
que é exterior à música
dispo o reflexo. Sou um
e baço

dou-me as mãos na estreita
passagem dos dias
pelo café da cidade adoptiva
os passos discordando
mesmo entre si

As coisas são a sua morada
e há entre mim e mim um escuro limbo
mas é nessa disjunção o istmo da poesia
com suas grutas sinfónicas
no mar.

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