Há uns anos, o Baptista Bastos (1) lembrou-se de perguntar a umas quantas figuras mais ou menos relevantes, sobretudo nos domínios político e cultural, “Onde é que estava no 25 de Abril?”. Cidadão anónimo, eu não fui interrogado… Mas, hoje, eu pergunto-me. E respondo.
Depois de almoço, no Sporting (2), passei por minha casa para recolher o “Notícias” (3) e fui, como habitualmente, até ao Coco (4). Sentei-me ao balcão, ao lado do Diniz (5). Que bebia uma cerveja, solitário. E apreensivo. Desisti do café, de outro café, e acompanhei-o. Na cerveja. E falei-lhe da minha manhã, a primeira como funcionário público. Nos SMAE (6). Disse-lhe que trabalharia como assistente do Eng. Vassalo, responsável pelo sector de água. Disse-lhe, também, que conversáramos sobre coisas banais, inúteis. Provavelmente para nos conhecermos. E que ficara a saber, pelo próprio, que era irmão do último governador (7) do Estado da Índia Portuguesa (8). Mas o Diniz manteve-se calado. Ou quase. Era evidente a sua inquietação. Até que, depois de lançar para o ar mais uma baforada de fumo, me confidenciou. Em voz baixa: - “Mano, houve um golpe de estado em Lisboa… ”. – E acrescentou: - “A RSA (9) está a transmitir em directo… Vamos para casa! ”.
Fomos. Muito provavelmente, o Diniz ficou na Delegação do “Notícias” . Junto do pai, Moaz Gonçalves (10). Mas eu fui mesmo para casa. Onde esperei pela Eugénia (11). Para, em conjunto, acompanharmos as notícias que o RCM (12) calava. Mas que nos chegavam de Lisboa pela África do Sul.
Ao começo da noite, na Escola de Condução que começara a frequentar, eu sugeri ao instrutor (europeu) e às minhas colegas (indianas) que sintonizassem a RSA. Para saberem o que se passava em Lisboa. Não me prestaram a menor atenção. E a aula de código decorreu normalmente…
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(1) Jornalista e escritor.
(2) Restaurante do Sporting Clube de Quelimane.
(3) Diário que se publicava em Lourenço Marques.
(4) Snack-Bar “O Coco”, no rés-do-chão do Hotel Chuabo.
(5) Diniz Albano Carneiro Gonçalves.
(6) Serviços Municipalizados de Água e Electricidade.
(7) Gen. Vassalo e Silva
(8) Goa, Damão e Diu.
(9) Radio South Africa, de Johannesburg.
(10) Ex-professor, jornalista. Delegado do “Notícias” em Quelimane.
(11) Então, a minha companheira. Natural de Quelimane. Da terceira geração da família que se radicara na capital da Zambézia. Professora. Casaríamos em Junho, na velha Catedral, na marginal do Rio dos Bons Sinais.
(12) Rádio Clube de Moçambique, de Lourenço Marques.
Depois de almoço, no Sporting (2), passei por minha casa para recolher o “Notícias” (3) e fui, como habitualmente, até ao Coco (4). Sentei-me ao balcão, ao lado do Diniz (5). Que bebia uma cerveja, solitário. E apreensivo. Desisti do café, de outro café, e acompanhei-o. Na cerveja. E falei-lhe da minha manhã, a primeira como funcionário público. Nos SMAE (6). Disse-lhe que trabalharia como assistente do Eng. Vassalo, responsável pelo sector de água. Disse-lhe, também, que conversáramos sobre coisas banais, inúteis. Provavelmente para nos conhecermos. E que ficara a saber, pelo próprio, que era irmão do último governador (7) do Estado da Índia Portuguesa (8). Mas o Diniz manteve-se calado. Ou quase. Era evidente a sua inquietação. Até que, depois de lançar para o ar mais uma baforada de fumo, me confidenciou. Em voz baixa: - “Mano, houve um golpe de estado em Lisboa… ”. – E acrescentou: - “A RSA (9) está a transmitir em directo… Vamos para casa! ”.
Fomos. Muito provavelmente, o Diniz ficou na Delegação do “Notícias” . Junto do pai, Moaz Gonçalves (10). Mas eu fui mesmo para casa. Onde esperei pela Eugénia (11). Para, em conjunto, acompanharmos as notícias que o RCM (12) calava. Mas que nos chegavam de Lisboa pela África do Sul.
Ao começo da noite, na Escola de Condução que começara a frequentar, eu sugeri ao instrutor (europeu) e às minhas colegas (indianas) que sintonizassem a RSA. Para saberem o que se passava em Lisboa. Não me prestaram a menor atenção. E a aula de código decorreu normalmente…
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(1) Jornalista e escritor.
(2) Restaurante do Sporting Clube de Quelimane.
(3) Diário que se publicava em Lourenço Marques.
(4) Snack-Bar “O Coco”, no rés-do-chão do Hotel Chuabo.
(5) Diniz Albano Carneiro Gonçalves.
(6) Serviços Municipalizados de Água e Electricidade.
(7) Gen. Vassalo e Silva
(8) Goa, Damão e Diu.
(9) Radio South Africa, de Johannesburg.
(10) Ex-professor, jornalista. Delegado do “Notícias” em Quelimane.
(11) Então, a minha companheira. Natural de Quelimane. Da terceira geração da família que se radicara na capital da Zambézia. Professora. Casaríamos em Junho, na velha Catedral, na marginal do Rio dos Bons Sinais.
(12) Rádio Clube de Moçambique, de Lourenço Marques.
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Ilustração: Imagem recolhida em http://ideiasemdesalinho.blogs.sapo.pt/ .
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