2008-09-28

Água, desinfecção pelo método do Duplo-Pote


Em Abril de 1978, o “Jornal do Médico” publicou em separata o opúsculo “Desinfecção química da água de consumo pelo método do Duplo-Pote”, de Baltazar Mexia de Matos Caeiro – então Interno Policlínico do 1º Ano nos Hospitais Civis de Lisboa. Um pequeno livro (de 10 páginas) que todos nós, MSP e TSA da minha idade, lemos e reproduzimos para (in)formarmos as populações e particularmente os trabalhadores das autarquias sobre aquele método de desinfecção da água e assegurarmos a prevenção das doenças “transmissíveis pelas águas contaminadas” e a implementação de “cuidados básicos que as populações devem seguir para preservação das águas que bebem”.

O autor detém-se na “experiência pouco dispendiosa, prometedora e única em Portugal, que tem sido ensaiada com êxito no Distrito de Castelo Branco, em todos os seus concelhos, pelo Engenheiro Sanitário Melo Trigueiros e todos quantos com ele colaboram”, e apresenta “alguns números, para avaliar da importância da experiência (…) levada a cabo” pelo Serviço de Saúde do Concelho de Sertã.

Antes, porém, explica-nos em que consiste o método do Duplo-Pote, adaptado de “Water Suplly Systems”:

O Difusor de Duplo-Pote (…) é formado por um cilindro de barro interior com, aproximadamente, 16 cm de diâmetro e 28 cm de altura, com um furo de 1 cm de diâmetro situado a 3 cm da boca, colocado dentro de um outro, também de barro e cilíndrico, com 25 cm de diâmetro interno e 30 cm de altura. A 4 cm do fundo, o Pote exterior terá um orifício com 1 cm de diâmetro. Entre os dois recipientes fica um espaço aproximado de 9 cm.

O pote mais pequeno, interno, enche-se com uma mistura humidificada de 1 kg de cloreto de cal e 2 kg de areia grossa (2 mm), até um nível cerca de 3 cm abaixo do furo
(…). (i)

Para que a mistura se mantenha mole e se prolongue o tempo de cloração, deve adicionar-se 75 gr de hexametafosfato de sódio (ou 5% do peso de cloreto de cal) (…).
(ii)

Finalmente, a boca do pote exterior é fechada com um plástico. Temos, assim, o conjunto pronto a ser utilizado, suspenso em qualquer tipo de captação de água, cerca de 1 metro abaixo do nível da mesma, durante aproximadamente 2 meses, após o que se deve proceder ao seu recarregamento (6 por ano).

A cloração que pode ser feita pelo Difusor de Duplo-Pote refere-se também a poços particulares com a capacidade de 4 500 l e um consumo de 310 a 450 l
”.

Passaram-se 30 anos desde a data de publicação do estudo sobre a experiência-piloto do uso do Duplo-Pote. Hoje, para os profissionais de saúde pública e de saúde ambiental, será um método obsoleto. Mas, admitamos, era eficaz – mesmo eficiente, se considerarmos a relação custo-benefício. - E era, e é, ecológico. E ainda hoje, apesar de dispormos de outros recursos tecnológicos, talvez seja (fosse) útil porquanto, como sabemos, ainda há milhares de pessoas que se abastecem de água proveniente de poços. De poços sem protecção e sem qualquer vigilância – sanitária e/ou de controlo de qualidade.

…………………………

(i) O autor esclarece que se fez “uma modificação no quantitativo dos produtos, passando a utilizar-se 2 kg de cloreto e 1 kg de areia, notando-se uma apreciável melhoria dos resultados das análises”.

(ii) O autor observa que foi abandonada a utilização do hexametafosfato de sódio “por não dar o resultado teoricamente pensado, sem que isso tenha alterado em nada a validade e a eficácia do método” – facto que ao longo de anos, na década de 80 (1980- 1990), tivemos oportunidade de confirmar no exercício da profissão, no âmbito das acções de vigilância sanitária dos sistemas abastecimento de água públicos e particulares.

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